Passados os seis primeiros meses de 2016, o saldo da violência em Santa Maria, principalmente no que se refere aos homicídios, é praticamente o mesmo em relação ao mesmo período de 2015. No entanto, na primeira metade deste ano, houve duas mortes a menos em relação ao primeiro semestre de 2015. Foram 26 assassinatos registrados até o dia 30 de junho (sendo dois deles em legítima defesa, que não é considerado crime), a maioria por arma de fogo e faca, contra 28 nesse mesmo período do ano passado.
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A área mais violenta da cidade continua sendo a Região Oeste, onde nove pessoas foram vítimas de homicídio. No ano passado todo, foram 15 nessa região. O bairro Nova Santa Marta lidera as estatísticas, com cinco assassinatos. As regiões Norte e Nordeste, com quatro mortes cada, vêm logo em seguida.
Apesar de a diminuição não ter sido maior, acredita-se que a redução, possivelmente, já seja um reflexo do trabalho da Delegacia Especializada em Homicídios e Desaparecidos (DHD) de Santa Maria, que entrou em funcionamento no dia 20 de fevereiro deste ano.
– Por mais que tenhamos uma redução, ela não é comemorada, pois ainda assim tivemos mais de 20 mortes. Enquanto agentes de segurança, não queremos que ocorram mortes. Sabemos que isso é quase impossível, mas poderemos comemorar o dia que reduzirmos a um número inferior a 10. Aí, poderia dizer que seria digno de comemoração, porque teríamos indicadores quase de países desenvolvidos. Mas estamos trabalhando para isso – analisa o delegado regional da Polícia Civil, Sandro Meinerz, que foi o idealizador da DHD.
Mesmo estando em funcionamento há apenas quatro meses, o delegado regional avalia o resultado apresentado pela DHD como positivo. Até o momento, o delegado Gabriel Zanella, titular da DHD, e sua equipe, prenderam 23 pessoas e apreenderam quatro adolescentes no contexto das 65 tentativas de homicídio e dos 18 homicídios investigados pela delegacia. Do total dos 26 assassinatos do primeiro semestre, 10 ainda estão em investigação. O índice é de 61,5% de resolução dos casos, abaixo dos 87% de casos que foram elucidados até o final de 2015. Porém, é preciso relativizar que muitas investigações abertas já têm suspeitos e outras são recentes, pois o ano ainda está na metade.
– É um índice muito elevado, e estamos nos esforçando muito para isso. Acreditamos que estamos próximos dele. Por vezes, não depende apenas da polícia. Em alguns casos, a própria vítima (no caso das tentativas de homicídio) ou até mesmo familiares não colaboram, não apontam suspeitos e preferem outro caminho, que é a vingança – afirma Zanella.
As tentativas de homicídio, que também são uma preocupação, já que, muitas vezes, tanto vítima quanto autor – já que é um assassinato frustrado – podem querer se vingar ou tentar matar aquela pessoa novamente, estão com índices melhores. No ano passado, a elucidação das tentativas ficou em 47%, e em 2016, segundo Meinerz, aproxima-se dos 80%. O grande ganho, para Meinerz e para Zanella, é o fato de haver equipes em regime de sobreaviso e que atendem de imediato, nos locais onde ocorreram os crimes.
Em 2015, Santa Maria registrou o recorde de assassinatos, com 56 pessoas vítimas de homicídios.
Há quase dois meses, o jovem Flávio Flores Barcelos, 18 anos, foi morto ao ser alvejado por oito dos mais de 40 disparos de pistola efetuados por homens que se identificaram como policiais civis no Beco da Tela, que fica no bairro João Goulart, na região nordeste de Santa Maria. Outros dois homens também foram atingidos, mas não morreram. O local é conhecido por ser um reduto de pontos de venda de drogas e, recentemente, foi alvo de operações da Polícia Civil depois da tentativa da facção Bala da Cara, de Porto Alegre, instalar-se no local.
Uma das tias de Flávio, com quem ele morava, admite que o sobrinho era usuário de drogas, mas, segundo ela, não tinha envolvimento com o crime. Ela acredita que o sobrinho tenha sido morto por engano, e não tem esperança de que o crime seja desvendado.
O delegado Gabriel Zanella, titular da DHD, reconhece que esse caso está mais demorado, mas que é complexo em razão de como aconteceu.
– Esse é um dos casos mais complexos que temos sob investigação. Talvez o tempo já tenha passado um pouco. O modus operandi, a maneira como o crime foi cometido é complexa e demanda uma investigação mais aprofundada no sentido de chegarmos, se possível, à autoria e às circunstâncias do crime – afirma o delegado Zanella.
No entanto, a tia de Flávio, que tem 50 anos, relativiza e concorda que o caso é de difícil solução pela maneira como aconteceu e também por conta da grande demanda de trabalho que os policiais têm.
– Eles nunca vieram nos procurar nem nos deram nenhum retorno. Mas eles atendem a toda a região, tem dificuldade de pessoal, para eles, é difícil. Como a gente vai cobrar alguma coisa? Quantos casos eles têm para resolver e com todas essas dificuldades? Nós não temos mais esperança – reconhece a tia.
Zanella explica que trabalha com sigilo e que a resposta da delegacia, na maioria dos casos, tem sido rápida.
– Acreditamos que a resposta tem sido rápida, mas temos que analisar não somente o tempo, mas também a qualidade do trabalho que está sendo feito. Por vezes, é melhor esperar um pouco mais e conseguir mais elementos para conseguir uma prisão. A gente não publiciza, não diz para a vítima e para os familiares, até para que o nosso trabalho seja mais exitoso, todas as diligências que estamos fazendo. Por vezes, há uma falsa impressão de que a polícia não está fazendo nada, mas estamos trabalhando – explica o titular da DHD.