Na tarde desta sexta, a idosa Cléia Fontoura, 70 anos, ainda não conseguia conter o choro ao lembrar da cena na Rua Itapema, Bairro Nossa Senhora Aparecida, em Viamão, ocorrida no começo da noite de quinta. A poucos metros da creche Obra Social Monte Castelo, que havia sido furtada no final de semana, dois homens de 22 e 28 anos apareceram bastante machucados e amarrados com arames a um poste. Ao lado deles, boa parte dos objetos que haviam sido levados da creche.
– Eu estava dentro de casa quando começou aquela gritaria, as pessoas com muita raiva. Saí e me deparei com os dois naquele estado. Só tive condições de ligar para a Brigada Militar – conta a criadora da creche que funciona na localidade desde 1975 e atualmente atende 15 crianças.
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O choque da idosa foi ainda maior quando ela viu quem eram os supostos invasores da creche que haviam sido agredidos e capturados por populares.
– Eram dois meninos que eu ajudei a criar na creche. Moram por aqui. E isso me entristeceu muito, porque eles foram tão vítimas quanto nós nessa história. Nem tive forças para cobrar deles pelo furto – lembra Cléia.
A suspeita é de que traficantes que atuam no bairro tenham feito o justiçamento ao seu modo, depois de supostamente terem sido cobrados por moradores. Teriam invadido a casa de um dos suspeitos e encontrado os objetos furtados da creche. Apesar de condenar a tentativa de linchamento, a criadora da creche critica:
– Na segunda eu chamei a polícia, e só foi aparecer alguém aqui quando os dois já estavam machucados, na quinta.
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Bastante machucados, os dois homens foram socorridos ao Hospital de Viamão. Depois de liberados, não foram presos.
– Não havia situação de flagrante. Uma coisa é alguém ser flagrado com objetos furtados na sua posse. Outra coisa, é alguém encontrado agredido e preso, com os objetos colocados ao seu lado. Não tem como caracterizar uma receptação dessa forma – aponta o delegado Leônidas Cavalcante, que cumpria o plantão na DPPA de Viamão na noite de quinta.
Ainda assim, os dois homens serão investigados pelo furto e receptação. A Polícia Civil também investigará as agressões sofridas por eles. Ninguém foi preso por esse crime.
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