Os atrasos e paralisações das obras da nova ponte do Guaíba ganharam novos contornos na manhã desta quarta-feira, quando um projeto para que a iniciativa privada assuma a finalização da construção foi apresentado em audiência pública na Comissão de Economia e Desenvolvimento da Assembleia Legislativa. Proposta pelo Movimento Ponte do Guaíba – grupo formado por empresários e membros da sociedade civil da região sul do Estado –, o projeto prevê a transferência da continuidade dos trabalhos à concessionária Triunfo Concepa, administradora dos pedágios da freeway. A proposta será encaminhada a Brasília no próximo dia 15 de junho.
– Queremos uma solução, pois o problema na ponte do Guaíba está estagnando o desenvolvimento da metade sul do Estado. Estimamos que esteja gerando um prejuízo de R$ 1,2 bilhão para esta região por ano. Não recebemos mais indústrias porque elas alegam que teriam altos investimentos somente para suprir os atrasos e dificuldades causados pelo transporte – afirmou o presidente do Movimento Ponte do Guaíba, Luiz Domingues.
Leia mais:
Audiência discutirá conclusão da nova ponte do Guaíba pela Concepa
Cortes de verbas ameaçam construção da nova ponte do Guaíba
Segunda ponte do Guaíba deve ser concluída pela Concepa, defendem entidades do setor
Iniciada em 2014 por um consórcio liderado pela empreiteira Queiroz Galvão e com investimentos exclusivamente do governo federal, a execução da obra começou a apresentar problemas devido ao atraso no repasse de recursos da União no final do ano passado. Em 2 de maio deste ano, a construtora praticamente paralisou as obras com a demissão de, pelo menos, 300 trabalhadores. Em novembro de 2015, outros 200 desligamentos haviam ocorrido. Até o momento, apenas 35% da obra está concluída, e somente 80 funcionários estão trabalhando. O custo total da estrutura é de R$ 649,6 milhões, mas não se sabe com precisão quanto foi pago até agora. O orçamento de 2016 previu a destinação de pouco mais da metade do valor aprovado em 2015 à obra, de R$ 112 milhões.
Conforme o engenheiro Delmar Pelegrini, superintendente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), presente na audiência, as obras haviam seguido um ritmo normal até maio deste ano, quando a falta de recursos começou a prejudicar diretamente o andamento dos projetos:
– Hoje a obra está com uma programação com ritmo muito reduzido, já que só há recursos disponíveis para a realização de alguns projetos, como de reassentamentos de famílias e de questões ambientais, mas não para a execução das obras. Ainda há algumas peças sendo colocadas na construção, mas em ritmo muito lento. E provavelmente só teremos recursos para seguir esta parte até julho.
Sem perspectiva de retomada dos investimentos da União em meio à crise, a parceria com a iniciativa privada é apontada como alternativa. A previsão inicial de término da ponte era para novembro de 2017. Com os atuais impasses e indefinições, o superintendente do Dnit explica que não há mais um prazo para a conclusão.
– O que foi destacado na audiência é a importância do empreendimento e a necessidade de continuar a obra, seja pela transferência à iniciativa privada ou pela liberação de recursos do governo federal – resumiu Pelegrini.
Pela proposta da entidade, o governo federal faria um contrato direto com a Concepa para o novo acordo e definição de tarifas, sem o expediente da licitação. A coordenadora de infraestrutura da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) no Estado, Marisa Dagmar Tiefensee, acompanhou a audiência e explicou que só poderá avaliar a proposta quando ela for recebida pela agência:
– Até o momento não recebemos nenhuma proposta, é preciso uma demanda do governo federal para que possamos analisar.
Ao final da audiência, Domingues informou que irá a Brasília dentro de uma semana, com uma comitiva de deputados a convite do deputado Frederico Antunes (PP), para apresentar o documento formalizando o apoio à entrega do projeto à concessionária. Consultada por ZH, a Queiroz Galvão informou que esteve presente na audiência somente como ouvinte, mas que quem responde pela questão é o Dnit.
Em nota, a Triunfo Concepa afirmou à Triunfo Participações e Investimentos que "está disposta, se esta for a vontade do governo, a avaliar possibilidades que tenham como objetivo acelerar obras no Estado e trazer melhorias à sociedade gaúcha e ao desenvolvimento do país." Na audiência, além dos representantes do Dnit e ANTT, compareceram membros de entidades e empresas como Ministério dos Transportes, Secretaria Estadual da Segurança, Marinha do Brasil e Braskem.