Só um dos três médicos que deveriam estar trabalhando na sexta-feira de manhã, no posto Dom Antônio Reis, no bairro Medianeira, em Santa Maria, compareceu ao trabalho. A pediatra Dalva Maria Dalla Barba Londero, flagrada pela RBS TV Santa Maria trabalhando menos do que a jornada diária exigida por contrato, está afastada por conta de um atestado médico até o mês que vem. A outra pediatra do posto também ficou doente. A clínica geral seguia atendendo, mas só por agendamento e pela manhã. A equipe de reportagem da RBS TV fez o flagrante em nova visita, na sexta-feira.
Os médicos deveriam cumprir de 6h a 8h por dia de trabalho nas unidade, de acordo com os contratos, quando passaram em concursos públicos. O não cumprimento da jornada foi denunciado por reportagem exibida na quinta-feira na RBS TV e será investigado pelo Ministério Público.
A prefeitura trabalha em uma proposta de reduzir a carga horária dos médicos, mantendo salários. A ideia tem gerado revolta em outros servidores não beneficiados pela medida. Todos eles terão de bater ponto a partir de 1º de julho.
Sem saber que estava sendo gravado pela RBS TV, o coordenador da Dom Antônio Reis, Vanderlei Araújo, confirmou na sexta-feira que os médicos não cumprem a jornada prevista. Ele exerce o cargo de confiança desde 2013 e é quem deveria fiscalizar o ponto de todos.
– Eu não sei te dizer quem fez esse horário. Desde que eu cheguei aqui, sempre foi assim. Eu só fiz dar sequência. Sei que é por produção – afirmou Araújo.
Na sexta-feira de manhã, a reportagem esteve no posto da Cohab Santa Marta e também encontrou apenas uma médica clínica geral atendendo os pacientes já agendados.
O ginecologista Alexandre dos Santos Leite, flagrado na reportagem de quinta-feira saindo antes da hora da unidade de saúde da Santa Marta, entrou em férias. Conforme uma servidora que também pediu para ficar no anonimato, o problema de ausência de médicos é recorrente:
– Nunca tem médico. Geralmente eles estão fora. E a gente, quando precisa de socorro, tem que chamar o Samu para nos dar auxílio, porque eles não estão na unidade.
A prefeitura nega que os médicos tenham horários privilegiados e manifesta temor de que a implantação do ponto eletrônico cause o pedido de demissão de médicos. Por isso, trabalha na proposta de reduzir a jornada da categoria. A mudança contemplaria também as novas contratações por concurso:
– A gente tem que manter esses profissionais. E a discussão, no Legislativo, é para achar uma alternativa. Que alternativa vamos ter? Vamos privatizar a saúde, terceirizar? Nós não queremos isso – disse Vânia Olivo, secretária de Saúde, na quinta-feira.
Segundo a prefeitura, há 123 médicos concursados na prefeitura e 156 vagas abertas. Desde 2013, o Executivo já investigou administrativamente 124 servidores, sendo nove por descumprimento da carga horária. Três resultaram na devolução de salários pagos indevidamente.