
Por uma diferença de 39 votos, professores ligados ao Cpers/Sindicato decidiram, na tarde de sexta-feira, manter a greve que dura mais de 40 dias. A assembleia geral, ocorrida no Gigantinho, em Porto Alegre, teve 730 votantes favoráveis à continuidade da paralisação e 691 contrários.
O resultado apertado evidenciou a divisão da categoria. As urnas também mostraram um descompasso com o que os núcleos regionais haviam manifestado anteriormente: 16 foram a favor e 20 contra, enquanto cinco optaram por acatar a decisão da assembleia.
– Essa é uma questão histórica. Muitas vezes, os que não querem a continuidade da greve não vêm para a assembleia. Independentemente disso, a decisão se dá aqui. No momento em que quisermos que o sindicato siga a vontade da maioria, a maioria tem de mobilizar sua voz – analisa a presidente do Cpers, Helenir Aguiar Schürer.
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Parte dos educadores que se inscreveram para falar ao microfone e sinalizaram o voto pelo fim da greve foram vaiados e chamados de "pelegos". Solange Carvalho, vice-presidente do sindicato, repudiou a atitude em sua fala e criticou quem não apoiou as mobilizações como a ocupação do Centro Administrativo Fernando Ferrari (Caff) mas foi para assembleia defender greve por tempo indeterminado. Para Helenir, a necessidade, agora, é "pé na estrada" para unir a categoria:
– Depois dessa decisão, nossa luta vai ser para aumentar novamente (o movimento). Nós temos núcleos que estão bem mobilizados e vamos ter de buscar aqueles outros que estavam fracos na greve.
A falta de perspectiva para reposição salarial foi um dos pontos principais que motivaram o resultado pró-continuidade. Presidente da entidade nas duas gestões passadas, Rejane Oliveira diz que é preciso organização para arrancar do governo uma proposta, além do abono da greve.
– Ele (governo) não vai nos matar no cansaço. Ou apresenta uma proposta, ou a greve continua – afirma a professora.
As negociações entre o comando de greve e o Executivo só tiveram avanço a partir da ocupação do Caff – professores ficaram no local durante quatro dias e só saíram de lá, no dia 17, com a garantia de uma reunião com os secretários Luís Antônio Alcoba de Freitas (Educação) e Carlos Búrigo (Secretaria-Geral de Governo), além do líder do governo na Assembleia Legislativa, deputado Gabriel Souza (PMDB).
Na ocasião, foi apresentada a proposta para retomada das aulas, organizada em quatro pontos: revogação da portaria que criou comissão de análise do adicional por difícil acesso; prolongamento da discussão do PL 44/2016, que trata das organizações sociais; exigência de cumprimento dos dias letivos para que o ponto não seja cortado e participação do Cpers em um grupo que apresentará à sociedade "ações, propostas de alterações legislativas e outras iniciativas" de melhoria da educação.
Em nota divulgada no fim da tarde de sexta-feira, o governo definiu a decisão como "claramente política" e disse que a "sociedade não pode ser penalizada por disputas internas do próprio sindicato". O texto afirma que o Executivo "tomará as medidas legais e administrativas cabíveis, inclusive com o corte do ponto dos grevistas".