Durante todo o final de semana, 40 enxadristas de vários estados brasileiros se enfrentaram em Porto Alegre. Foi a Etapa Regional Sul de uma competição na qual cada participante tem o seu tabuleiro, cujas casas pretas são levemente em relevo, as peças do jogo têm um pino para serem encaixadas nas casas, e as jogadas são gravadas em áudio ou braile.
Trata-se da segunda etapa da Copa Brasil de Xadrez para Deficientes Visuais, promovida pela Federação Brasileira de Xadrez para Deficientes Visuais (FBXDV), e trazida pela primeira vez para Porto Alegre pela Associação de Cegos do Rio Grande do Sul (Acergs). Os jogos ocorreram no Grêmio Sargento Expedicionário Geraldo Santana.
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Para o funcionário público Adroildo José Martins, 50 anos, 33 deles como praticante do jogo, o xadrez foi um meio de inserção social. Atualmente, ele tem 2% de visão, enxerga vultos, por conta de uma doença chamada retinose pigmentar (causa a perda gradual da visão por conta da degeneração da retina, região do fundo do olho que é responsável pela captura de imagens).
– Foi um meio de encontrar pessoas com a deficiência, fazer contatos, exemplos que podemos seguir – comentou Adroildo, que já foi três vezes campeão brasileiro.
Embora tenha aprendido a jogar xadrez na infância, com o pai, aos 11 anos, foi em 2008, enquanto fazia cursos de reabilitação – também tem retinose pigmentar – que o massoterapeuta André Rezende Marques, 42 anos, reencontrou o xadrez.
O paranaense que vive em São Paulo é quatro vezes campeão brasileiro (o último título foi em 2015), duas vezes vice, três vezes campeão pan-americano e uma vez campeão pan-americano por equipe.
Além da descrição do tabuleiro e das peças, no início da reportagem, há pouca diferença entre o xadrez e o xadrez praticado por deficientes visuais. Uma delas é que no tabuleiro do jogador deficiente visual, é considerada tocada a peça quando ela tiver sido retirada do orifício de fixação.
– A concentração é um preceito básico para qualquer jogador. Em 2009, optei por encarar o xadrez profissionalmente e passei a estudar de oito a doze horas diárias, seis vezes por semana – conta André.
Ele cita os benefícios do esporte:
– Além da concentração, é um ótimo exercício de paciência, de foco. Para o deficiente visual, trabalha coisas cruciais como noção espacial e socialização. Na ideia da inclusão, não discrimina idade, sexo, deficiência – opina André, que também ensina xadrez voluntariamente desde 2008.
Glailton Winckler da Silva, segundo vice-presidente da Acergs e diretor de Esporte e Cultura, concorda:
– O xadrez abre uma porta para tirar o deficiente visual de casa, para aqueles que não têm perspectiva. Acreditamos no esporte como reabilitador, como porta para o mundo.
O objetivo
O objetivo de cada jogador é colocar o rei do oponente "sob ataque" de maneira que o oponente não tenha lance legal. O jogador que alcançar esse objetivo deu xeque-mate no rei do adversário e venceu a partida.