
O jet leg do poder é implacável. Na última quinta-feira, já afastada da Presidência da República por 180 dias, Dilma Rousseff se preparava para fazer um pronunciamento à nação quando Jaques Wagner, um de seus principais auxiliares, tentou ajudar um grupo de militantes a entrar no Palácio do Planalto. Foi barrado na porta. "O senhor não é mais ministro", sentenciou o segurança.
Com o fracasso na tentativa de barrar o impeachment, o grupo de condestáveis petistas, do qual Wagner era o maior expoente, agora se prepara para voltar à planície. Será longe da Esplanada, mas dentro do Congresso, que Wagner, Ricardo Berzoini, Aloizio Mercadante e José Eduardo Cardozo irão conduzir as ações do bloco de oposição ao governo de Michel Temer. O quarteto terá a missão de tentar virar votos no julgamento definitivo da presidente afastada no Senado e subsidiar os parlamentares do partido com informações estratégicas.
– Eles vão nos ajudar a responder ao discurso de terra arrasada e a fazer um contraponto a projetos que retirem direitos e diminuam programas sociais – adianta a deputada Maria do Rosário (PT-RS).
Leia mais
Com chuva em Porto Alegre, Dilma opta por retornar a Brasília na segunda-feira
Líderes de esquerda são mobilizados pelo PT contra o impeachment
Essa articulação será planejada a partir desta segunda-feira, quando a Executiva do PT se reúne por dois dias em Brasília, com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ideia é construir uma coalizão que abrigue todos os setores identificados com o partido, como demais legendas de esquerda, movimentos sociais, centrais sindicais, além de artistas, intelectuais e juristas. Em suma, algo que remonte aos primórdios do PT, com forte cunho ideológico e capacidade de mobilização popular.
Descansando em Porto Alegre, Dilma não participará da reunião. Contudo, o partido conta com a presença dela em atos Brasil afora que o PT pretende organizar para manter o discurso de que foi vítima de um golpe. Para tanto, foi providencial a negociação estabelecida com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que manteve o direito ao uso de aviões oficiais na lista de prerrogativas da presidente afastada. As primeiras caravanas deverão começar pelo Nordeste, onde seus índices de popularidade ainda são considerados satisfatórios.
É no Congresso, porém, que a maior batalha será travada. Em debates internos, é consenso entre os dirigentes petistas que a sigla perdeu estatura ao permitir que políticos com larga experiência no Parlamento deixassem de concorrer para servir ao governo. Foi o que ocorreu com os quatro fiéis escudeiros Wagner, Berzoini, Mercadante e Cardozo.
No Alvorada, equipe de 15 pessoas a postos
Sem mandato, eles agora terão de atuar como conselheiros informais. Por deterem informações privilegiadas sobre o país, são obrigados pela Comissão de Ética da Presidência da República a cumprir uma quarentena de seis meses. Nesse período, terão salários pagos pelo governo – benefício aliás requisitado por inúmeros funcionários do Planalto diante da enxurrada de exonerações oficializadas nos últimos dias. Somente entre quarta e sexta-feira, mais de 220 servidores foram dispensados.
Até agora, a única exceção aberta pela Comissão foi em relação a Cardozo. O ex-advogado-geral da União obteve anuência específica do órgão para atuar exclusivamente no julgamento do impeachment no Senado. Como Dilma foi citada quinta-feira, ele terá mais 17 dias para apresentar defesa prévia à Comissão Especial Processante. Nesse período, os outros três ex-ministros também cumprirão tarefas distintas. Wagner fará a articulação com governadores do PT e de partidos aliados. Berzoini vai se reaproximar de sua base sindical bancária, e Mercadante ficará à disposição de Dilma em Brasília.
A petista contará ainda com 15 assessores lotados no Palácio da Alvorada, sob a chefia de Giles Azevedo. Há mais de 20 anos trabalhando ao lado de Dilma, o ex-chefe do gabinete pessoal da presidente foi nomeado secretário-executivo da equipe. Caso o Senado confirme a condenação por crime de responsabilidade, Azevedo é um dos poucos tidos como presença certa na futura lista de seis auxiliares a que ela terá direito na condição de ex-presidente.
José Eduardo Cardozo
Procurador licenciado do município de São Paulo, é advogado e professor de Direito. Deputado federal por dois mandatos, foi um dos principais articuladores da campanha de Dilma em 2010. A pedido da petista, não concorreu à reeleição e assumiu o Ministério da Justiça, cargo no qual permaneceu até março deste ano. À frente da Advocacia-Geral da União, conduziu a defesa da presidente durante todo o processo de impeachment, com atuação elogiada inclusive pela oposição. Mesmo fora do governo, obteve autorização da Comissão de Ética da Presidência para seguir defendendo a petista. Ao término do julgamento, pretende terminar o doutorado na PUC-SP e voltar a dar aulas.
Jaques Wagner
É considerado um dos mais hábeis articuladores do PT. No governo Lula, foi ministro do Trabalho e das Relações Institucionais. Saiu para concorrer ao governo da Bahia, Estado que comandou por dois mandatos consecutivos (2007-2014). Com Dilma, foi ministro da Defesa e da Casa Civil. Deixou o posto para a entrada de Lula no ministério, o que acabou não se consumando até o afastamento da presidente. Agora, irá se dedicar à tentativa de virar votos no julgamento do impeachment no Senado e retomar a interlocução com os governadores do partido. É o favorito para disputar a Presidência da República em 2018 caso Lula não seja candidato.
Ricardo Berzoini
Deputado por quatro mandatos, começou na política presidindo o Sindicato dos Bancários de São Paulo. Homem de confiança do ex-presidente Lula, foi ministro da Previdência e do Trabalho. Também presidiu o PT após a crise do mensalão. No governo Dilma, foi titular da Secretaria de Relações Institucionais, das Comunicações e da Secretaria de Governo. Com bom trânsito no Congresso, irá coordenar informalmente as bancadas petistas na Câmara e no Senado durante o julgamento do impeachment e na formação do bloco de oposição ao governo Michel Temer. Também tem a tarefa de reaproximar o partido de sua base sindical. É candidato natural à presidência do PT em 2017.
Aloizio Mercadante
Um dos fundadores do PT, é economista e professor licenciado da PUC-SP. Apesar de ser um dos principais nomes do partido, sempre teve relação tempestuosa com Lula, o que o afastou do primeiro escalão nos dois mandatos do ex-presidente. Ganhou a confiança de Dilma durante a campanha de 2010 e galgou postos no ministério. Foi titular da Ciência e Tecnologia, da Educação e da Casa Civil. Em março, envolveu-se em uma polêmica ao ser gravado por um ex-assessor de Delcídio Amaral numa conversa na qual supostamente tentava impedir uma delação do ex-senador preso pela Operação Lava-Jato. Ficará assessorando Dilma informalmente e deve voltar a dar aulas na PUC-SP.