Organização, distribuição de tarefas e, principalmente, discursos ensaiados e articulados dão o tom dos alunos que ocupam, desde a última quinta-feira, a Escola Estadual Cilon Rosa, no Centro de Santa Maria.
O movimento é em apoio à greve dos professores estaduais desencadeada no último dia 13, em todo o Estado. Na portaria que dá acesso à instituição, na Avenida Presidente Vargas, alunos permanecem em vigilância permanente e um cartaz pede os números de RG e CPF para quem quiser ingressar no prédio.
O comando da escola, que é uma das maiores da cidade, com quase mil estudantes, é dos alunos. E não se trata de impressão da reportagem. A informação é da direção do Cilon e também da educadora e diretora do 2º núcleo Cpers SM, Sandra Regio:
– Professores, direção, servidores, ninguém se mete. O comando está com os alunos.
O movimento de ocupação no Cilon é organizado e conta com o apoio de professores grevistas e do Cpers. Tudo para que a escola seja o “case” de partida e que desencadeie novas ocupações de escolas estaduais na cidade neste fim de semana e nos próximos dias.
Até quinta-feira, em todo o Estado, eram 112 estabelecimentos sob o controle dos alunos, conforme a página no Facebook Ocupa Tudo RS. Já a Secretaria Estadual de Educação não tinha levantamento próprio.
Em Santa Maria, das 32 escolas da rede estadual, 25 estão em greve total ou parcial, segundo o Cpers. Já na área da 8ª CRE, que compreende Santa Maria e mais 22 cidades, foram mapeadas 60 escolas em funcionamento normal, 36 com greve parcial e 12 paralisadas.
Não há números exclusivos sobre Santa Maria.Bruno Santos, 16 anos, que cursa o 3º ano do Ensino Médio no Cilon e que está à frente da Comissão de Comunicação, criada durante a ocupação, diz que eles ficarão no local por tempo indeterminado.
Ele assegura que um eventual recuo só acontecerá após uma clara sinalização do governo de José Ivo Sartori (PMDB) em atender às demandas dos educadores e, igualmente, a dos alunos (leia abaixo).
Do lado do Cpers, Sandra Regio dá um recado ao Estado: não menosprezem a mobilização.Ainda em Santa Maria, na quinta-feira, alunos tentaram ocupar a Escola Estadual de 1º e 2º Graus Coronel Pilar e o Instituto Estadual Padre Caetano, mas, em ambos, a direção não permitiu.
Calendário em risco
Uma situação é vista com apreensão por pais e, igualmente, por alunos, mas principalmente por aqueles que estão no 3º ano, às vésperas de concluir o Ensino Médio, e que terão como compromissos vestibular e Enem: o não cumprimento do calendário letivo.
Embora não se saiba quanto tempo irá durar a greve, há a previsão legal de reposição das aulas e o cumprimento dos 200 dias de ano letivo. O Cpers estadual e as demais unidades não descartam a não conclusão do ano letivo. Ou seja, o saldo de dias que ficar pendente neste ano seria recuperado apenas em 2017. Assim, o aluno encerraria o ano sem ter a aprovação da série estudada.
Mobilização que segue na reunião
Em Caçapava do Sul, um grupo de alunos permanecia, ainda na sexta-feira, na Escola Estadual Nossa Senhora da Assunção, que segue sem aula. Em São Gabriel, a mobilização também seguia na Escola Estadual José Sampaio Marques da Luz.
Em Cruz Alta, conforme a página no Facebook Ocupa Tudo RS, seriam seis escolas ocupadas: Instituto Estadual de Educação Professor Annes Dias, Escola Estadual de Ensino Médio Major Belarmino Côrtes, Escola Estadual Ensino Fundamental Dr. Gabriel Alvaro de Miranda, Escola Estadual Ensino Médio Dr. Hildebrando Westphalen, Escola Estadual de Educação Básica Margarida Pardelhas e a Escola Estadual de Educação Básica Venâncio Aires.
Já em Jaguari, o Instituto Estadual de Educação Professora Guilhermina Javorski também estava ocupado na sexta-feira.Desde quarta, os campi da Unipampa em Caçapava e São Gabriel também estão ocupados. Na sexta, um ato, na BR-392, em Caçapava, terminou com violência. Motoristas agrediram estudantes (veja vídeo no site).
Bandeiras dos alunos
Na sexta-feira, em Santa Maria, havia uma instituição ocupada, a escola Cilon Rosa, uma das maiores de Santa Maria. Conforme o Cpers, a expectativa é de que outras escolas também sejam ocupadas. Veja o que os estudantes buscam:
- Os alunos reivindicam melhorias na infraestrutura das escolas, manutenção de laboratórios e bibliotecas e melhores condições de trabalho para os professores.
- Em comunicado, divulgado na noite de quinta-feira, os secundaristas do Cilon Rosa alegaram que a ocupação busca uma educação gratuita e de qualidade e a valorização dos educadores e contra a privatização. Eles são contra a precarização que a escola pública vem sofrendo
Bandeiras dos professores
Em assembleia no último dia 13, o Cpers aprovou a greve do magistério na rede estadual, por tempo indeterminado. Confira o que a categoria busca:
- Entre as reivindicações da categoria, estão o fim do parcelamento de salários.
- Reajuste de 13,1% nos vencimentos.
- Cumprimento da lei do piso, que hoje estaria 69,44% defasado, de acordo com o Cpers.
- IPE com pleno atendimento e sem aumento de descontos.
- O fim do fechamento de turmas e escolas e a disponibilidade de merenda para todos os alunos
Embate permanente
- A Secretaria Estadual de Educação já anunciou o corte no ponto dos professores grevistas.
- Já o Cpers ingressou com um mandado de segurança na Justiça para que os dias de greve não sejam descontados.
- O sindicato sugere que os professores façam um “ponto paralelo”, já que o governo afirmou que registrará falta aos grevistas.
- Já o sindicato pede mobilização total da categoria.
- O governo do Estado emitiu uma nota na qual diz que “é fundamental que as aulas sejam mantidas regularmente, preservando o atendimento dos nossos estudantes”, e se colocando disponível ao diálogo com os professores.
Assembleia, comissão e cautela nas informações
À frente da Comissão de Comunicação (existem outras quatro, de alimentação, cultura, limpeza e segurança), Bruno Santos, 16 anos, é o porta-voz e quem define o que pode e o que não pode ser dito ao público sobre a ocupação.
Mas além dele, há outros estudantes que se revezam em dar conta da manutenção da escola. O primeiro almoço, um macarrão com guisado, foi servido na sexta-feira e feito pelos próprios alunos, que utilizaram a cozinha da escola. A refeição foi possível graças às doações.
Na portaria, há um cartaz com o pedido “aceitamos doações de alimentos”. A organização não revela quantos estudantes estão na instituição e é cautelosa ao falar com a imprensa para evitar que “informações sejam deturpadas pela grande mídia”.
Embora o discurso encontre semelhanças com movimentos estudantis e partidos de esquerda, os estudantes afirmam que não há braços partidários ou apoio de outras entidades, como União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), entre outros.
– É 100% dos alunos do Cilon – reitera Bruno.
Dentro da rotina da ocupação, além de cozinharem, os estudantes fizeram um mutirão de limpeza do pátio e pintaram paredes dos banheiros que estavam pichadas. Além disso, estão previstas “aulas públicas” com atividades de integração, refeições compartilhadas e muitas reuniões e assembleias para falar do movimento e dos próximos passos.
Do lado de dentro, ainda há alunos que fazem a segurança ao percorrer o pátio do prédio. E há horário para tudo: café, almoço e janta. A sala dos professores e outras salas de aula foram improvisadas como dormitórios. Os alunos pediram, por meio da página no Facebook, a doação de colchões, colchonetes, edredons e cobertores.