Os últimos dias trouxeram acontecimentos que colocaram Brasília no centro das atenções. A saída da presidente Dilma Rousseff, afastada para preparar sua defesa no processo de impeachment, e a posse de seu vice, Michel Temer, agora presidente interino, dividiram opiniões.
Para alguns, golpe, para outros, a chance de renovar o panorama político e econômico do país. Mas a pergunta que todo mundo faz é a mesma: o que isso vai mudar na minha vida? O Diário Gaúcho ouviu discursos e conferiu entrevistas para trazer para você o que há de mais atual em relação às metas e projetos da Era Temer.
Para trazer o debate para as ruas,esclarecemos as dúvidas de duas mulheres com muitos questionamentos: a dona de casa Sônia Lopes de Oliveira, 63 anos, e a desempregada Paola Patrícia Mendes Parnoff, 31 anos.
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À espera dos benefícios
Inscrita no Minha Casa Minha Vida desde 2009, quando o programa teve início, a dona de casa Sônia Lopes de Oliveira, 63 anos, do Bairro São José, na Capital, não tem certeza se ainda será contemplada com uma casa. Da família, além dela, os dois filhos e uma nora estão inscritos, mas seguem vivendo de aluguel.
O benefício do Bolsa Família, importante na renda da família – na mesma casa vivem ela, quatro netos com idades entre quatro e dez anos, a filha de 38 anos e o filho de 35 –, foi cancelado desde a metade do ano passado. Sônia desconhece a razão. Cadastrada novamente, esperava ansiosamente pelos R$ 700 mensais que recebia do programa.
– Eu vou todos os meses no Cras (Centro de Referência da Assistência Social) para saber se vou receber. Na segunda-feira (16), irei lá outra vez – revela a idosa.Na madrugada da última quinta-feira, Sônia acompanhou pela tevê a manifestação de cada um dos senadores que decidiram pela saída da presidente Dilma Rousseff por até 180 dias.
– Amanheci vendo as notícias com preocupação. Acho que esse governo vai tirar tudo. Dá até um desgosto na gente. Mas agora temos que esperar. Mas tem meses em que não sei se a gente vai conseguir o dinheiro do aluguel – desabafa.
Por conta de problemas de saúde, Sônia não consegue trabalhar fora. Depois de ter sido ascensorista e doméstica em casa de família, hoje apenas faz bicos como cuidadora. Segundo ela, o pedido de aposentadoria foi feito há três anos.
– Estou tentando me aposentar. Não está fácil, as crianças estão com falta de roupas. Eles (o governo) não entendem que não tenho renda, esse dinheiro me faz muita falta.
Dúvidas sobre o futuro
A casa onde a desempregada Paola Patrícia Mendes Parnoff, 31 anos, mora com o filho Victor Juan Mendes de Aguiar, nove anos, na Vila Vargas, Bairro Partenon, na Capital, foi construída recentemente, com sacrifício e graças à ajuda da avó dela, de 71 anos, que cedeu parte do terreno e auxiliou nas despesas. Mas, desde que a antiga casa de Paola começou a cair, em 2008, ela não perde as esperanças de ter a casa própria.
– Eu me inscrevi no Demhab em 2008. Aí, surgiu o Minha Casa, Minha Vida, me inscrevi em 2014 e comecei a participar das reuniões. A previsão era de que minha casa fosse entregue em 2017.
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A mudança no comando do país deixou Paola receosa:
–Me assustou um pouco. Não sou favorável a partido nenhum, mas não temos como saber agora o que vai acontecer. Minha mãe diz para eu ter esperança, mas acho que não vou conseguir.Além de fazer alguns bicos como recepcionista e faxinas, Paola conta com R$ 156 do Bolsa Família, que recebe desde janeiro deste ano.
– É pouco, mas me ajuda bastante. Me programo para comprar leite, ajudar no rancho. No mês passado, usei para pagar uma consulta particular para o meu filho. Fiquei com medo de tirarem o Bolsa – afirma.
Quando ficou desempregada, em abril do ano passado, Paola recebeu o benefício do seguro-desemprego.
– Assim como eu precisei, outras pessoas poderão precisar. Então, tenho medo que acabem com o que já existia.Em relação ao futuro, Paola está na expectativa:
– Quero me estabilizar, pretendo buscar um emprego (de carteira assinada), mas estou bem triste, não espero muita coisa, porque procurei no final do ano passado, e me decepcionei com o salário – conclui Paola, que já trabalhou como balconista de padaria, frentista, recepcionista e faxineira.
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Roberta Schuler
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