A cada dia que passa o movimento estudantil dá demonstrações de mais força. Nesta segunda-feira mais três escolas foram ocupadas por estudantes em Santa Maria: o Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac, o Colégio Estadual Tancredo Neves e a Escola Estadual Maria Rocha. Agora, ao total, alunos ocupam seis instituições em toda a cidade. As outras escolas, já ocupadas há mais dias, são a Margarida Lopes, Augusto Ruschi e Cilon Rosa.
Nas escolas que foram ocupadas nesta segunda-feira ainda não há muitas definições dos alunos sobre quais vão ser as atividades dos próximos dias. O mais comum entre todas é o pedido por alimentos para que os estudantes façam as refeições. A imprensa deverá ter acesso ao Olavo Bilac amanhã, em uma coletiva de imprensa nos mesmos moldes da que foi promovida no Cilon. Na escola Tancredo Neves ainda havia definição sobre se haveria ou não aula na manhã desta terça-feira.
Cilon Rosa
A Escola Estadual de Ensino Médio Cilon Rosa, que fica na Avenida Presidente Vargas, entre a Avenida Borges de Medeiros e a Rua Appel, foi a primeira a ser ocupada em Santa Maria, em 19 de maio. Ontem, os alunos, que haviam optado por não se manifestar por meio de entrevistas, abriram as portas da instituição para a imprensa e falaram sobre o que têm vivido no local.
Desde que ocuparam a escola, os estudantes têm realizado uma série de atividades, como palestras, rodas de conversa e shows musicais. Eles também receberam visitas de acadêmicos dos cursos de História e Ciências Sociais, que apoiam o movimento e promoveram palestras para os adolescentes. O suporte de diferentes setores fortalece os estudantes que estão na ocupação. Principalmente, no que diz respeito à doação de alimentos para que os alunos façam as refeições.
– Estamos felizes com a adesão às oficinas, por exemplo. Esse apoio que temos recebido é muito importante – diz Bruno Santos, 16 anos, aluno do 3º ano.
Durante o dia, os alunos que participam da ocupação (os organizadores não divulgam quantos são) seguem uma série de regras. Há seis comissões responsáveis por tarefas como limpeza, segurança, alimentação, entre outras. Além disso, há três horários definidos para refeições: 9h (café da manhã), 13h (almoço) e 21h (jantar). Quatro grupos de estudantes se revezam entre as 23h e as 7h para vigílias no pátio da escola, com o objetivo de garantir a segurança.
RG e CPF para entrar
Além das atividades culturais e educacionais, eles realizam melhorias na estrutura física da escola: já arrumaram salas e pintaram um banheiro. Devido ao pioneirismo do Cilon no movimento de ocupação, algumas regras aplicadas na instituição são seguidas por outras escolas: só é possível entrar com RG ou CPF, e só podem entrar alunos, professores e pais. Além disso, todos os estudantes que estão dormindo na instituição tiveram de levar autorização por escrito dos responsáveis.
Vizinhos e donos de estabelecimentos comerciais da redondeza do Cilon elogiam os alunos:
– Eles são bem tranquilos. Até me surpreendi pela organização. Eles levam o lixo no contêiner todos os dias e varrem a frente da escola – disse o funcionário de uma empresa, que pediu para não ser identificado.
Olavo Bilac
Assim que abriu a escola, por volta das 7h, os alunos chegaram com agasalhos, violões e mantimentos. Segundo Rosinara Lima, 45 anos, mãe de duas alunas do Bilac, o grupo conta a adesão de 20 a 30 estudantes. Em uma publicação na página “Ocupa Olavo Bilac”, os ocupantes afirmam que a reivindicação é idêntica a das outras escolas. Eles também reclamam da falta de materiais didáticos, de higiene e limpeza e cobram uma reforma do prédio.
Rosinara diz que apoia a ocupação da instituição porque acredita que, unidos, professores e estudantes poderão amenizar os problemas enfrentados nas escolas.
– O movimento dessas crianças não é baderna. Os professores merecem apoio, e eu espero que o governo entenda o que esses alunos estão pedindo. Nós, pais, temos acesso à escola e estamos lutando junto com nossos filhos – diz Rosinara.
Na mesma página no Facebook os alunos pedem doações de alimentos como arroz, feijão, massa, leite, pão, margarina, carne e materiais de higiene e limpeza.
Margarida Lopes
A Escola Estadual de Educação Básica Professora Margarida Lopes, em Camobi, foi a terceira instituição a ser ocupada em Santa Maria. Segundo a página do Facebook “Ocupa Marga”, criada pelos alunos, a ocupação, que começou na quinta-feira, conta com uma série de atividades e com uma pauta específica de reivindicações, além daquelas já divulgadas por outras escolas como a contrariedade ao PL 44, o parcelamento do salário dos professores e a falta de repasse para as escolas.
Os alunos da Margarida Lopes reclamam da falta de dinheiro para a merenda, da infraestrutura da escola e da falta de segurança, de materiais básicos e de um coordenador pedagógico. Ainda na pauta de reivindicações está a construção de um ginásio de esportes e a manutenção do laboratório de informática da escola.
Os alunos, que dizem apoiar o movimento grevista dos professores, também publicam um “Diário de bordo”, no qual relatam as atividades realizadas diariamente na escola. Entre elas, estão a limpeza das salas e do pátio, reuniões para definir programações culturais e plantio de árvores. Os estudantes também pedem doações de alimentos e materiais de limpeza.
Augusto Ruschi
A Escola Estadual de Educação Básica Augusto Ruschi, no bairro Santa Marta, na região oeste, foi a segunda da cidade a ser ocupada. O movimento começou a se desenhar em uma caminhada pelas ruas do bairro, no dia 16 de maio. A ocupação veio no sábado seguinte, dia 21. Assim como na escola Cilon Rosa, há uma série de atividades culturais e educacionais sendo realizadas na instituição.
Ontem, no chamado Ocupa Cine, foi exibido o filme “A revolução dos bichos”, baseado na obra do escritor George Orweel.
Para hoje, está previsto um sopão para os estudantes que ocupam a escola, que será realizado pelo projeto Aconchego no Prato. Também hoje, será promovido, na instituição, um debate sobre a possibilidade de rompimento do contrato entre a prefeitura municipal e a Corsan.
Na página “Ocupa Augusto Ruschi”, no Facebook, os alunos pedem com urgência a doação de produtos de limpeza.
Maria Rocha
A Escola Estadual de Ensino Médio Professora Maria Rocha, que fica na Rua Conde de Porto Alegre, foi uma das três a serem ocupadas na tarde de ontem. Por volta das 19h, alunos ainda chegavam na escola com colchões e mantimentos para passarem a noite.
Assim como nas demais instituições que foram ocupadas, os alunos criaram um perfil no Facebook para divulgar as atividades que serão realizadas.
Até o fechamento desta edição, não houvia publicações na página, apenas uma foto da escola com a faixa dizendo “ocupada”. Assim como nas demais, os alunos devem pedir a doações de alimentos. A reivindicação segue os padrões das demais, reprovando o PL 44, pedindo mais investimentos na educação.
Tancredo Neves
Segundo da região oeste de Santa Maria a ser ocupado, o Colégio Estadual Tancredo Neves, que abriga alunos dos ensinos Fundamental e Médio, foi ocupado na tarde de ontem. As reivindicações são as mesmas que nas demais escolas, como melhor infraestrutura, contrariedade ao PL 44 e o parcelamento do salário dos professores. Mas os alunos dali também pedem um laboratório de ciências e um de informática de mais qualidade.
Nos próximos dias, haverá reuniões para decidir o futuro da ocupação, que foi planejada pelo Grêmio Estudantil e contou com o apoio de alunos de outras escolas já ocupadas.
– Contamos com o apoio da direção e dos pais dos alunos que estão ocupando a escola. O próximo passo é ir ao Centro Comercial para dialogar com a comunidade e distribuir esses panfletos – explica o estudante Luciano Becher, 16 anos, do 8º ano.
Ontem houve aulas no turno da manhã, mas ainda há indefinição sobre hoje. Os ocupantes não sabiam se iriam liberar a entrada ou não.
– Ainda estamos em fase inicial da ocupação. Ainda vamos ver o que vai acontecer amanhã (hoje) – explica Luciano, acrescentando que só entram na escolas alunos portando RG.
Os ocupantes pedem doações de alimentos.