A presidente Dilma Rousseff fez uma discreta menção à crise brasileira durante os cinco minutos e 40 segundos de pronunciamento no evento da ONU, em Nova York, que celebra o Acordo de Paris na manhã desta sexta-feira. Após falar sobre a questão climática, a presidente agradeceu aos líderes que manifestaram apoio a ela, mas não usou palavras como "golpe" ou "impeachment".
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– O Brasil é um grande país, com uma sociedade que soube vencer o autoritarismo. O povo tem um grande apreço à liberdade e saberá impedir qualquer retrocesso – disse.
Dilma ocupou boa parte do discurso para elogiar os esforços mundiais na construção do Acordo de Paris, um conjunto de ações para combater o aquecimento global que a presidente classificou como uma "histórica conquista da humanidade".
Ela foi a sétima líder mundial a discursar no evento de abertura, num total de 18 convidados. Além dela, discursaram também Ban Ki-Moon, secretário-geral da ONU, os presidentes da França, do Peru e da Bolívia, os primeiros-ministros do Canadá e da Itália, o secretário de Estado americano, John Kerry, o ator e Mensageiro da Paz da ONU Leonardo DiCaprio, entre outros.
– Hoje, ao lado dos chefes de Estado, assumo compromisso de assegurar a pronta entrada em vigor do acordo no Brasil. O caminho que teremos de percorrer agora será ainda mais desafiador: transformar nossas ambiciosas aspirações em resultados concretos – disse Dilma.
O pronunciamento da presidente serviu ainda para que ela reafirmasse o compromisso de desmatamento zero da Amazônia até 2030, além de uma política de reflorestamento no país. Ela ainda saudou a iniciativa do governo francês, que, no ano passado, sediou o evento onde o acordo foi construído. Aproveitou também para elogiar o esforço do próprio governo e da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, que esteve ao lado da presidente durante todo o evento.
– Nós demos respostas firmes e decisivas aos imensos desafios à construção de consensos – afirmou a presidente.
Dilma afirmou que todas as fontes renováveis de energia terão participação ampliada na matriz energética do país. E destacou:
– Sem a redução da pobreza e desigualdade, não será possível vencer o combate à mudança do clima.
Logo após falar sobre a questão climática, já nos minutos finais do discurso, ela abordou a crise política, justificando:
– Não posso terminar sem mencionar o grave momento em que vive o Brasil.
Após o discurso, Dilma tomou seu lugar na plenária, ao lado da ministra Izabella e também de Antonio Patriota, até ser chamada para a assinatura do acordo, ao lado de outros mais de 150 líderes de Estado. O documento é original e único, escrito nos seis idiomas oficiais da ONU (árabe, chinês, inglês, francês, russo e espanhol).
Assim que a cerimônia de assinaturas terminasse, Dilma participaria de almoço fechado, no quarto andar do prédio da ONU, para discutir os fluxos de implementação das ações em favor do meio ambiente.
O ativista e ex-vice-presidente americano Al Gore, assim como o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, também confirmaram presença no almoço. A expectativa é de que este evento termine perto das 16h, horário de Brasília.
A presidente deve falar mais sobre o processo de impeachment numa entrevista coletiva marcada para as 17h30 (horário de Brasília). A expectativa é de que ela repita o discurso da última coletiva feita com jornalistas estrangeiros, na semana passada.
Antes do evento, na manhã desta sexta, duas manifestações estavam marcadas, contra e a favor da presidente, nas proximidades da ONU. Com forte esquema de segurança e vários blocos fechados para acesso ao público, os atos tiveram pouca repercussão.
Dilma retorna ao Brasil já no sábado.