A soma da indefinição do cenário político no Brasil e a volta da aversão a risco no exterior resultou no fortalecimento da moeda americana ante o real nesta segunda-feira. O dólar à vista no balcão encerrou em alta de 1,64%, aos R$ 3,6175. Profissionais do mercado de câmbio afirmaram que era natural que o dólar recompusesse parte do seu valor nesta semana, uma vez que a cotação caiu 3,31% no acumulado da semana passada.
A forte queda dos preços do petróleo e as incertezas quanto ao processo de impeachment contribuíram para concretizar essa previsão. Os contratos futuros da commodity encerraram o pregão desta segunda-feira em queda e no menor nível desde 3 de março, pressionados pelas divergências entre a Arábia Saudita e o Irã em relação a um congelamento da produção da commodity.
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Profissionais de câmbio também mencionaram como influência altista a venda de 8.140 contratos de swap cambial reverso feita pelo Banco Central pela manhã, de um total de 14.100 contratos ofertados. A operação, que tem efeito equivalente à compra de dólares, foi considerada significativa e ajudou a dar sustentação às cotações. No mercado futuro, o dólar para liquidação em maio era negociado a R$ 3,6450 às 17h44, com alta de 1,72%.
O Ibovespa fechou em baixa de 3,52%, aos 48.779,99 pontos, com apenas duas das ações que compõem sua carteira com sinal positivo. Segundo operadores e analistas, o desempenho da bolsa foi afetado, principalmente, pelo enfraquecimento da tese de investimento baseada no impeachment de Dilma. Com a possibilidade de o governo conseguir o número mínimo na Câmara para barrar o impedimento, muitos investidores decidiram realizar os lucros, vendendo as ações.
Na liderança do ranking de maiores baixas do Ibovespa, figuraram os dois papéis da Petrobras (PN -9,33% e ON -8,83%). Além do cenário político, pressionaram as ações para baixo a queda do preço do petróleo para o menor patamar desde 3 de março e também a vontade da diretoria executiva da Petrobras de reduzir os preços dos combustíveis.
Além da Petrobras, outras blue chips amargaram perdas importantes. A Vale, por exemplo, fechou em queda de 4,64% na ação ON e de 4,72% na PNA. As ações da mineradora responderam às baixas nas bolsas internacionais, especialmente em Nova York. O índice Dow Jones fechou em queda de 0,31%. O Nasdaq, em -0,46%. E o S&P500, em -0,32%.
Taxas de juros
Os juros futuros encerraram a sessão desta segunda-feira em alta, alinhados ao comportamento cauteloso visto no mercado de câmbio e na Bovespa. O avanço foi mais forte no trecho longo da curva a termo, refletindo principalmente a redução das apostas na possibilidade de êxito do processo de impeachment. Para o mercado, somente uma mudança de governo seria capaz de resolver os problemas econômicos do País e, por isso, a movimentação dos aliados para salvar o mandato da petista recomendou uma postura mais defensiva do investidor.
Ao término da negociação regular, o DI com vencimento em janeiro de 2017 projetava 13,805%, de 13,780% no ajuste da sexta-feira. O DI para janeiro de 2018 subia de 13,54% para 13,66%. Nos longos, o contrato para janeiro de 2021 indicava 13,98%, na máxima, de 13,72% no ajuste anterior.
As taxas começaram o dia sob um discreto viés de queda, influenciadas pelo recuo do dólar, mas passaram a subir na medida em que a moeda norte-americana também inverteu o sinal e cresceu a cautela com o cenário político. A comissão que avalia o processo de impeachment ouviu nesta segunda-feira o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, que pessoalmente fez a defesa da presidente.
– O mercado, nas últimas semanas, vinha aumentando muito suas posições vendidas em taxa, dando o impeachment de Dilma como certo, mas as recentes ações do governo sugerem que o processo não será tão simples – disse o estrategista-chefe da Indosuez, Vladimir Caramaschi, citando como exemplo as negociações de cargos com os partidos da base.
Na parte curta da curva, os contratos tiveram alta mais modesta, mas ainda refletindo o enfraquecimento das apostas de corte da Selic no próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) que começou a ocorrer desde a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação na quinta-feira passada, mesmo em meio à redução das projeções para a inflação este ano. A mediana das previsões para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), no boletim Focus publicado hoje, passou de 7,31% para 7,28%.