A revista britânica The Economist defende, em editorial, que é hora de a presidente Dilma Rousseff deixar o cargo. A escolha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Casa Civil foi uma "tentativa grosseira de impedir o curso da Justiça". Por isso, Dilma está inapta a permanecer na Presidência, argumenta o texto, que será publicado na edição que chega às bancas no final de semana.
"A indicação de Lula parece uma tentativa grosseira de impedir o curso da Justiça. Mesmo que essa não fosse sua intenção, esse seria o efeito. Esse foi o momento em que a presidente escolheu os limitados interesses da sua tribo política acima do Estado de Direito", diz o editorial que tem o título "Hora de ir". "Assim, ela tornou-se inapta a permanecer como presidente", cita o texto, que defende que "a presidente manchada deveria renunciar agora".
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O editorial nota que sempre defendeu que apenas a "Justiça ou os eleitores – e não políticos com interesses próprios tentando impedi-la – podem decidir o destino da presidente". Essa percepção, porém, mudou com a decisão tomada por Dilma de indicar Lula, argumenta o editorial. No final de semana, o jornal The New York Times já havia classificado como "ridículas" as explicações de Dilma para a nomeação de Lula. A saída de Dilma Rousseff, diz o editorial da Economist, "ofereceria ao Brasil a oportunidade de um novo começo".
A revista afirma que continua acreditando que o processo de impeachment pelas pedaladas fiscais segue parecendo injustificado. Assim, a revista nota que há três caminhos para a saída da presidente: 1) mostrar que Dilma Rousseff obstruiu o trabalho de investigação na Petrobras; 2) por decisão do Tribunal Superior Eleitoral que resultaria em novas eleições ou 3) a renúncia. "A maneira mais rápida e melhor para a senhora Rousseff deixar o Planalto seria a renúncia antes de ser empurrada para fora", defende o editorial. No último dia 20, o britânico The Guardian disse que a presidente deveria renunciar se não conseguir controlar a agitação social, que representa risco de intervenção militar.
Sem Dilma, a Economist acredita que o Brasil poderia ter um governo de coalizão liderado por Michel Temer para executar reformas necessárias para estabilizar a economia e acabar com o déficit público próximo de 11% do Produto Interno Bruto. O editorial nota, porém, que Temer também está "profundamente envolvido no escândalo da Petrobras como o PT". Assim, apenas "novas eleições presidenciais poderiam dar aos eleitores uma oportunidade de confiar as reformas a um novo líder".
Além de criticar abertamente a atual presidente, a revista desaprova a publicação das escutas telefônicas pelo juiz Sergio Moro, que comanda as investigações da Operação Lava-Jato. "O Judiciário também tem perguntas a responder. Os juízes merecem grande crédito por fazerem os empresários e políticos mais poderosos do Brasil prestarem contas, mas eles minaram sua causa desrespeitando as normas legais. O exemplo mais recente é a decisão do Sr. Moro para liberar conversas telefônicas gravadas entre Lula e seus associados, incluindo Rousseff".
*Estadão Conteúdo