A investigação de injúria racial e de racismo cometidos contra a atriz Tais Araújo apontou que há um suspeito de envolvimento nos crimes no Rio Grande do Sul. Auxiliando a Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) do Rio de Janeiro, a Polícia Civil gaúcha cumpriu dois mandados de busca e apreensão na manhã desta quarta-feira – um em Cachoeira do Sul e outro em Porto Alegre. As investigações foram iniciadas em outubro do ano passado.
Na Capital, a polícia foi até uma casa no bairro Rubem Berta, na Zona Norte, onde deteve um suspeito, que foi levado para prestar depoimento. Um notebook foi apreendido. William dos Santos Trisch, 27 anos, acabou sendo preso em flagrante por pedofilia após serem encontrados vídeos e fotos envolvendo crianças e adolescentes no seu computador. Os arquivos ocupavam quase 2GB. Ele será encaminhado ao Presídio Central e vai responder por pedofilia, racismo, injúria racial, ameaça e formação de organização criminosa.
– A prisão não foi o objeto inicial, mas como foi encontrado vasto material de pedofilia, ele foi preso. São cenas de sexo explícito entre crianças e adolescentes – esclarece o delegado Arthur Hermes, titular da DRCI-RS, que está ligada ao Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
Quando foi preso, Trisch estava em casa, onde mora com os pais, e inicialmente tentou desligar o computador para que os policiais não tivessem acesso ao conteúdo. Mas após a verificação do material de pornografia envolvendo crianças e adolescentes, ele aceitou colaborar com as investigações. Conforme o delegado Hermes, ele era administrador de um grupo no Facebook com cerca de 20 mil membros que seria responsável pelos ataques à atriz. As investigações também apuraram que estavam sendo planejados novos ataques, desta vez contra a também atriz Sheron Menezzes e contra a apresentadora Xuxa.
– Trata-se de um grupo de piadas pejorativas, humor repugnante. Seriam nove administradores no total, e o suspeito está colaborando para que todos sejam identificados. Ele foi autuado no artigo 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – explica o delegado.
O suspeito tinha antecedentes criminais por receptação e informou à polícia que estava desempregado. Quanto ao material pornográfico com crianças e adolescentes, Trisch disse que usava as imagens e vídeos apenas para fazer publicações em grupos rivais nas redes sociais, para provocar o bloqueio destas páginas. O grupo que ele administrava, intitulado QLC – que segundo o delegado significa "Que loucura cara" – saiu do ar nesta quarta-feira.
Em Cachoeira do Sul, na região central, o alvo foi uma casa no bairro Bom Retiro. De acordo com Hermes, os equipamentos de informática da residência foram vasculhados, mas nenhum indício de envolvimento nos crimes de racismo foi encontrado. Entretanto, a investigação também vai apurar a possibilidade de participação de moradores próximos da residência nos ataques.
– Acreditamos que a rede de internet da dona da casa foi invadida, possivelmente de forma remota. Por isso, ela foi ouvida na condição de testemunha – esclarece Hermes.
Conforme o delegado, o suspeito ainda não justificou sua motivação para os ataques racistas. O computador dele, que foi apreendido, passará por perícia para que todo o conteúdo seja avaliado.
– A ideia é, se possível, fazermos a identificação das crianças e adolescentes que aparecem nas imagens e vídeos para que as devidas providências possam ser tomadas.
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No país, a operação cumpriu um total de 11 mandados de busca e quatro de prisão nos Estados do Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina, Bahia e São Paulo. Um dos suspeitos de liderar a quadrilha foi preso na cidade catarinense de Navegantes. O jovem de 20 anos, cujo nome não foi divulgado, acabou preso no momento em que chegava ao trabalho, em um supermercado, onde estava empregado há uma semana. De acordo com a Polícia Civil, ele é "uma pessoa comum, humilde" – perfil que se repete no comando do bando.
Segundo nota da Polícia Civil do Rio, durante as investigações, os policiais descobriram que o grupo que insultou a atriz foi criado com o objetivo de praticar ataques racistas em perfis e páginas de redes de relacionamento, como Facebook, e contatos do aplicativo WhatsApp. O bando, de acordo com a polícia, incitava os ataques, criando grupos secretos e temporários na web. Também ensinavam maneiras de mascarar as conexões que usavam, para dificultar o rastreamento dos autores.
O mesmo grupo teria cometido crimes contra outras pessoas, como a jornalista Maria Júlia Coutinho, conhecida como Maju, que apresenta a previsão do tempo no Jornal Nacional. No entanto, a investigação pode pedir punição apenas com relação aos crimes cometidos contra Taís, pois Maju não prestou queixa à polícia, explica o delegado gaúcha.
– A partir das informações colhidas hoje (quarta-feira), vamos tentar traçar as conexões e de que forma o suspeito preso aqui em Porto Alegre e os outros investigados agiam – afirma Hermes.
Conforme o delegado, o grupo pode responder por associação criminosa, injúria racial, racismo, quadrilha e invasão de dispositivo, entre outros, como pedofilia. As investigações terão continuidade tanto no Rio de Janeiro quanto no Rio Grande do Sul.
Relembre
Taís Araújo teve o seu perfil no Facebook atacado na noite de 31 de outubro do ano passado. Ela reagiu e anunciou que levaria o caso à polícia. Na rede social, escreveu:
Publicado por Taís Araújo em Domingo, 1 de novembro de 2015
É muito chato, em 2015, ainda ter que falar sobre isso, mas não podemos nos calar: na última noite, recebi uma série de...
Em solidariedade, espalhou-se na web a hashtag #SomosTodosTaísAraújo. Em julho do ano passado, a jornalista Maju também foi alvo de insultos racistas na internet e recebeu apoio em uma campanha promovida pelos colegas do Jornal Nacional.
Publicado por Jornal Nacional em Sexta, 3 de julho de 2015
#SomosTodosMajuCoutinho #SomosTodosMaju
Os crimes
A injúria racial está prevista no Código Penal, associada ao uso de palavras que depreciam a pessoa pela cor da pele, raça, etnia, origem e religião. O Código Penal prevê pena de prisão de um ano a três anos, além de pagamento de multa.
Já o crime de racismo, previsto na Lei Federal 7.716/1989, atinge uma coletividade de indivíduos. É um crime inafiançável e imprescritível.
*com informações da Agência Estado