O senador Delcídio Amaral reforçou as suspeitas da Operação Lava-Jato de que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), teria sido um dos beneficiários do esquema de corrupção em Furnas Centrais Elétricas. Em depoimento concedido em 12 de fevereiro no Ministério Público Militar de Brasília, o parlamentar afirmou que o peemebista tinha estreita ligação com a direção anterior da estatal. A mudança na cúpula da instituição, segundo o senador, teria decretado a guerra de Cunha contra a presidente Dilma Rousseff.
"Como EDUARDO CUNHA tinha comando absoluto da empresa, [Delcídio] acredita que ele tenha recebido vantagens ilícitas", diz a transcrição do depoimento.
O parlamentar ainda afirmou que o presidente da Câmara "comprou a briga" contra a Schahin após o rompimento de uma pequena central hidrelétrica em Rondônia, cuja construção estava a cargo da empresa e da qual Furnas era "sócia". Segundo Delcídio, o jogo de empurra sobre as responsabilidades do acidente resultou no desentendimento entre a Schahin e o doleiro Lúcio Bolonha Funaro – apontado pela Polícia Federal como o operador de Cunha em Furnas.
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Para pressionar os adversários, o atual presidente da Câmara começou a apresentar requerimentos para depoimentos em Brasília.
"A briga entre FUNARO e SCHAHIN era uma luta fratricida, embora não tenha maiores detalhes; QUE em relação a FURNAS, DILMA teve praticamente que fazer umaintervenção na empresa para cessar práticas ilícitas, pois existiam muitas notícias de negócios suspeitos e ilegalidade na gestão da empresa; QUE, ao que parece, "a coisa passou da conta"; QUE atualmente em FURNAS praticamente toda a diretoria é de confiança de DILMA ROUSSEFF; QUE a atual diretoria é absolutamente técnica e vários nem são de FURNAS; QUE questionado até quando durou o esquema de ilegalidades de FURNAS, respondeu que até uns quatro anos atrás, quando DILMA mudou a Diretoria, ou seja, até a penúltima diretoria; QUE esta mudança na Diretoria de FURNAS foi o início do enfrentamento de DILMA ROUSSEFF e EDUARDO CUNHA, pois este ficou contrariado com retirada de seus aliados de dentro da companhia", descreve o documento.
Em outro ponto, os documentos da delação de Delcídio sugerem que Eduardo Cunha também beneficiou o banqueiro André Esteves, ex-dono do banco BTG. O anexo 26 classifica o presidente da Câmara como "menino de recados" do executivo.
Segundo a documentação, o peemedebista foi um dos personagens que teria atuado para favorecer a instituição bancária com emendas em medidas provisórias. Cunha teria apresentado alteração no texto de uma MP "possibilitando a utilização de ativos em instituições em liquidação de dívidas". De acordo com o documento, seria "mais uma tentativa, entre outras, de incursões do André junto ao deputado Eduardo Cunha com o propósito de incluir mecanismos para que bancos falidos utilizassem os Fundos de Compensação de Variações Salariais (FCVS) para quitarem dívidas com a União".
O próprio Delcídio disse que chegou a intermediar um encontro entre Esteves e o ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy em 2015 para tratar do tema. No documento, o senador não confirma se a reunião ocorreu nem detalha as circunstâncias.
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