Em discurso de transmissão do cargo para o sucessor nesta quinta-feira, o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, agora advogado-geral da União, contestou a versão trazida pelo senador Delcídio do Amaral (MS) em delação premiada à Justiça, revelada nesta manhã pela revista IstoÉ. Segundo Cardozo, que deu lugar a Wellington César Lima e Silva, o senador, suspenso pelo PT após ser preso na Operação Lava-Jato, está "misturando os fatos na tentativa de fazer sua vingança".
No documento, que teria cerca de 400 páginas, Delcídio relatou aos procuradores que uma das investidas da presidente Dilma Rousseff para interferir na Lava-Jato passava pela nomeação do desembargador Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça (STJ). "Tal nomeação seria relevante para o governo, pois o nomeado cuidaria dos habeas corpus e recursos da Lava-Jato no STJ", afirma a reportagem.
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Delcídio contou aos procuradores que a estratégia foi discutida com Dilma no Palácio da Alvorada e que sua tarefa era conversar "com o desembargador Marcelo Navarro, a fim de que ele confirmasse o compromisso de soltura de Marcelo Odebrecht e Otávio Marques de Azevedo", da Andrade Gutierrez.
– Se o governo tivesse negociado para nomear, pessoas que Delcídio queria que fossem soltas já estariam soltas. É muito fácil falar de fatos que já aconteceram quando se faz uma delação premiada. É um conjunto de mentiras – afirmou Cardozo.
De acordo com a reportagem da IstoÉ, o senador falou que "é indiscutível e inegável a movimentação sistemática do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da própria presidente Dilma Rousseff no sentido de promover a soltura de réus presos na operação".
– É um desejo de vingança em relação à presidente. O governo Dilma não intervém nas investigações da Lava-Jato, não intervém nos julgamentos e não teve nem como criar intervenção na Polícia Federal – frisou o ex-ministro.
Cardozo acusou Delcídio de "criar situações" com o objetivo de sair da prisão e contestou a falta de provas:
– Se fez delação, é porque queria ter saído da prisão e queria atingir algumas pessoas. Estava inconformado por ter sido preso e pelo governo não ter agido para tirá-lo da prisão.
Na sua deleção, Delcídio citou vários nomes, entre eles o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e detalhou os bastidores da compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras, entre outros assuntos. De acordo com a TV Globo, o acordo foi assinado mas ainda não homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão vai caber ao ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato. Se não for homologado, o acerto entre a PGR e Delcídio perde a validade.