Os porto-alegrenses vivenciaram de diferentes maneiras os efeitos da chuvarada acompanhada de ventania na última sexta-feira. Sorte daqueles que enfrentaram só um susto, porque alguns contabilizaram prejuízos estruturais que, nesta segunda-feira, se converteram em contas a pagar.
Morador do bairro Bela Vista, o empresário Luís Fernando Cardoso, 32 anos, teve parte do apartamento queimado por um incêndio decorrente do temporal. As rajadas derrubaram uma árvore que pegou fogo ao cair sobre fios de alta tensão, provocando um curto-circuito que chegou aos aparelhos de ar-condicionado do edifício e deu início às chamas. Dois apartamentos foram totalmente destruídos, e outros dois tiveram prejuízos parciais.
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– A nossa vida está toda suja de fuligem hoje. E a vida dos vizinhos está perdida – lamenta Cardoso.
Tamanha foi a intensidade da corrente elétrica que quase todos os pontos de luz do prédio, localizado na Rua Antônio Parreiras, se queimaram e nenhum eletrodoméstico resistiu. Fora o trauma de quem viu os pertences virarem fumaça, toda a rede elétrica e hidráulica ficou comprometida, e o edifício terá de ser evacuado para que se consertem os estragos.
– Vamos ter de alugar um apartamento. Nunca imaginei passar por uma situação como essa – diz a publicitária Cara Jardine, 31 anos, esposa do empresário.
No condomínio em que a professora Cláudia Lima, 49 anos, mora, o temporal entortou a grade de ferro, arrancou janelas e arrastou o mobiliário da piscina.
– Ficou tudo retorcido, parece ferro velho. Foi assustador – relata.
O prédio fica na esquina das ruas Visconde do Herval com Gonçalves Dias, no bairro Menino Deus. Nesta segunda-feira, a calçada teve de ser isolada porque a grade está em diagonal. Cadeiras e mesas voaram com a força do vento e atingiram carros que estavam estacionados na garagem. Ficou um rastro de amassados e arranhões nas latarias. As telhas do prédio, além da janela de um dos vizinhos – que caiu por inteiro –, não resistiram ao temporal.
Síndica do condomínio, Cláudia calcula prejuízo de R$ 50 mil. Ela assistiu ao temporal do quarto da filha, onde a persiana envergava e só não se soltou porque a professora a segurou até que a chuva passasse. Na casa tombada onde funciona o restaurante do chef Mark Bandeira, 33 anos, o fenômeno climático derrubou parte da parede de concreto.
Em torno de 20 clientes jantavam na hamburgueria, na esquina da Rua Joaquim Nabuco com a Travessa dos Venezianos, quando um deles abriu a porta. O forte vento lançou para fora tijolos e concreto, que atingiram um carro estacionado em frente ao local.
– Começou uma correria, natural pelo susto e pelo tamanho da ventania, mas, felizmente, não aconteceu nada mais grave – diz Bandeira. Ele estima gasto de R$ 15 mil para o reparo. Mais a queda na receita: o restaurante não deve reabrir até quarta-feira por conta do estrago.