A polêmica da semana foi a luta legítima de meninas que querem exercer o direito de usar shortinho curto na escola. As redes sociais se mobilizaram, nas paradas de ônibus, todos só falavam disso. Diziam que não era pelo shortinho, mas pela liberdade.
Eu confesso que olhava e não entendia, me senti mal vendo isso. Foi uma das reportagens mais comentadas no Jornal do Almoço. As pessoas me mandavam e-mails e mensagens no Facebook defendendo um dos lados.
Para mim, esse debate não tem sentido, não pelo tema, mas porque, um dia antes, eu mostrei depoimentos de crianças de dez anos que se assustam com tiros na rua de casa. Crianças que choram com medo de bandidos ou policiais invadirem seu quarto. Meninos que recolhiam os gatilhos de granadas de gás no quintal para trocar pelas cápsulas de bala encontradas na rua. No joguinho, quem tiver uma cápsula de projetil de fuzil pode trocar por dez de bala comum.
Importância
É com tristeza que não vi manifestações por esse jovens. A dor deles não dormirem é tolerável, mas a dor das meninas e seus shortinhos não é. Podem até me dizer que uma coisa não depende da outra e que uma pessoa pode lutar pelas duas causas, mas a verdade é que não foi isso que a realidade mostrou.
O grito de uma adolescente proibida de usar a roupa que quer ecoa mais que o choro de uma criança que tem medo de tomar tiro.
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Diariamente, fazemos nossas escolhas. O que comentamos, curtimos e compartilhamos define quem somos. Cabe a cada um, com muito carinho, olhar o histórico de sua rede social e refletir quem é e o que defende. Talvez ali chegue à conclusão que quem acreditamos ser não condiz com o que mostramos ser e somos. Que mundo é esse que vivemos onde shortinhos são mais importantes do que tiros? Confesso que não sei.