Nos 15 dias em que teve nas mãos a caneta mais importante do Estado, a de governador, José Paulo Cairoli foi discreto. Não adotou comportamento espalhafatoso nem assinou um decreto bombástico para atender apelos populares e cair nas graças do povo. Foi fiel ao estilo de José Ivo Sartori, que estava em férias no Caribe, mas uma característica do vice-governador foi percebida por quem acompanhou as principais agendas: mais dinamismo e ansiedade por resultados.
No exercício interino do cargo de governador até a última sexta-feira, Cairoli tinha, dizem os seus colaboradores, um primeiro objetivo: evitar decisões equivocadas e constrangimentos.
- Uma das grandes preocupações do Cairoli para esse período em que ele assumiria era evitar a possibilidade de causar algum problema. Ele não queria errar. Por isso, optou por chamar as pessoas de cada área para ouvir e amadurecer as coisas - relata um integrante do alto escalão do Palácio Piratini.
A disposição para ouvir secretários e técnicos foi destacada por quem acompanhou os encontros. O temperamento, sereno. Esbravejos foram poucos, sempre direcionados à burocracia estatal que emperra o andamento de iniciativas.
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As reuniões internas, no gabinete contíguo ao Salão Negrinho do Pastoreio, foram quase diárias na gestão de Cairoli. E o tema principal, debatido todos os dias em encontros presenciais ou por telefone, foi a mais nova pedra no sapato do governo, a segurança pública e a onda de violência. Enquanto o crime grassa, o Piratini é criticado pela atuação "apática" e falta de alternativas.
O governador em exercício quis saber o que estava sendo feito, pediu relatórios e números. Ao ouvir os relatos sobre operações policiais recentes, entendeu que um dos problemas é de falta de visibilidade das ações. Chamou uma reunião com a cúpula da segurança pública e todas as assessorias de imprensa. Determinou mais uniformidade na divulgação das informações. O recado é que o governo precisa levar à sociedade as "boas notícias" e retirar a sensação de inércia policial.
Na discussão sobre soluções, sugeriu mais edições da Balada Segura, sobretudo em locais de concentração de bares e jovens, não só como forma de encontrar motoristas alcoolizados, mas também veículos roubados. Ainda determinou a intensificação de operações especiais com a união de diferentes batalhões da Brigada Militar. A ideia é se mostrar mais presente à sociedade, em maior volume.
Nos encontros, deixou claro que, no momento, estão descartadas iniciativas que representem novos custos.
- A ordem é trabalhar com o que temos. Precisamos de gestão - diz um membro do primeiro escalão da segurança pública, presença frequente nas reuniões convocadas por Cairoli.
Em uma das conversas, o governador em exercício foi avisado de que a primeira aeronave Coala, usada em ações de saúde e segurança, estava liberada para voo. Logo questionou: "E a segunda, por que segue parada?"
Soube que havia uma pendência remuneratória - o Estado ainda deve duas parcelas de R$ 2,6 milhões à empresa fornecedora - e trâmites burocráticos a serem resolvidos na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Interrompeu a reunião com a cúpula da Segurança e telefonou ao secretário da Saúde, João Gabbardo. Como o convênio de compra foi assinado pela pasta, o recurso precisa sair de lá. Pediu que Gabbardo acelerasse com a Fazenda a liberação do valor da primeira parcela. O acerto foi feito, a empresa recebeu a comunicação e a promessa é de que o segundo helicóptero estará à disposição para uso depois do Carnaval.
Empresário, de perfil menos político e mais executivo, expôs pensamentos de que o Palácio Piratini precisa virar a página do ajuste fiscal e da crise econômica, tecla batida à exaustão no primeiro ano de mandato.
- Ele fez a avaliação de que temos de buscar o equilíbrio financeiro, mas, paralelamente, centrar esforços em uma ou duas áreas mais nevrálgicas e começar a fazer entregas. Na avaliação dele, as prioridades são segurança e saúde - diz um dirigente da área policial.
Nas duas semanas à frente do Piratini, Cairoli também se aproximou da área da saúde, mais precisamente do combate ao aedes aegypti. Primeiro, participou da inauguração da sala de monitoramento das ações estratégicas de combate ao mosquito. Depois, junto com Gabbardo e o chefe da Casa Militar, Everton Oltramari, foi a um encontro em Ijuí - região gaúcha mais afetada pela dengue no ano passado - para tratar com prefeitos de ações de prevenção.
O dia de maior exposição a holofotes ocorreu na recepção ao ministro e correligionário Gilberto Kassab, das Cidades. Cairoli o levou ao encontro de prefeitos, que apresentaram uma série de demandas. Foi um agrado de Kassab a Cairoli, já que a iniciativa de marcar a agenda no Rio Grande do Sul partiu do ministro e principal líder do PSD em nível nacional.
Pela primeira vez, Cairoli assumiu o comando do Piratini por período prolongado. Seja ele mais executivo e preocupado com rapidez, enquanto Sartori é excessivamente cauteloso, a avaliação interna do governo é de que eles se encontram no quesito discrição. E estão afinados.
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