O engenheiro polonês Zwi Skornicki, preso preventivamente pela Polícia Federal (PF), é um profissional singular. É um ex-funcionário público que enriqueceu justamente quando trocou a atividade estatal pela de lobista privado. Deixou de trabalhar com máquinas para dar conselhos sobre como lucrar com extração de petróleo, aconselhamentos esses muito bem remunerados. Tanto que seu patrimônio aumentou 35 vezes em uma década, conforme perícia contábil feita a pedido da PF.
Zwi, hoje com 66 anos, migrou da Polônia comunista aos cinco anos de idade. Em 1974, passou em concurso e começou na Petrobras, como engenheiro de perfuração. Ele passava 15 dias nas plataformas marítimas de extração de óleo. Enjoou do ofício e, três anos depois, passou a trabalhar para empresas privadas da área de petróleo. Entre elas, a Odebrecht, onde ficou por quase duas décadas. Lá, chegou a diretor de perfuração de petróleo, gerenciando oito plataformas. Chegou a morar na Índia, a serviço da empresa. Desde 2000, trocou de ofício e virou representante comercial – agora, para o estaleiro Keppel Fels, que constrói navios-sonda. Nunca largou o ramo petrolífero.
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Foi quando a Lava-Jato começou a investigar a Keppel Fels por pagamento de propina em contratos com a Petrobras que surgiu o nome de Zwi. Ele foi mencionado por Pedro Barusco (ex-gerente da Petrobras, que virou delator), em setembro de 2015, como operador de propinas.
Barusco admitiu ter recebido repasse de Zwi (que representava as empresas Keppel Fels e Floatec), entre 2003 e 2013, em conta no Banco Delta, na Suíça. Parte desse dinheiro teria sido repassado ao PT, por meio do tesoureiro da agremiação, João Vaccari Neto.
Levantamento da PF mostra que Zwi visitou a sede da Petrobras (no Rio) 490 vezes, entre 2006 e 2014. Entre as pessoas visitadas por ele estão Barusco, Renato Duque (ex-diretor, indicado pelo PT) e a própria presidência da empresa (nas gestões Sérgio Gabrielli e Graça Foster).
– O Barusco identificou 12 lobistas que repassavam dinheiro a dirigentes da Petrobras e políticos. O Zwi é um dos mais ativos como indutor de contratos. Esses intermediários resolvem problemas: pagamentos não-feitos, medições não-pagas, ruídos na negociação...Não deveriam existir, se as leis fossem cumpridas. Mas descobrimos que sem eles o negócio da corrupção não anda – descreve o procurador da República Antônio Carlos Welter, que atua na Lava-Jato.
Ouvido pela PF, Zwi negou ter repassado propina e garantiu que enriqueceu porque cobrava preços menores do que a concorrência.
A PF não está convencida de que o segredo do sucesso de Zwi é o preço baixo, tampouco o juiz Sérgio Moro, que decretou a prisão preventiva do lobista. Conforme perícia dos federais, o patrimônio do engenheiro passou de R$ 1,8 milhão, há 10 anos, para R$ 63 milhões, em 2015. Entre os bens dele apreendidos pela PF estão 10 carros antigos, importados e valiosos (a coleção inclui Porsche, Jaguar e Mercedes). Ele mantinha a maioria dos veículos numa mansão na região serrana do Rio.
Zwi está impedido, pela Justiça, de vender essa residência e outras duas: uma na Barra da Tijuca (um triplex) e uma casa na região de Angra dos Reis (RJ). Conforme a PF, o engenheiro estava construindo mais uma casa e tinha ainda um iate, confiscado pelos federais, usado para passeios. Na residência do Rio, foram apreendidas 48 obras de arte de pintores famosos, algumas das quais já foram disponibilizadas para um acervo que a PF ofereceu ao Museu Oscar Niemeyer, de Curitiba, município sede da Operação Lava-Jato.
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