O senador Delcídio Amaral (PT-MS) disse a interlocutores, no fim de semana, que não fará acordo de delação premiada com o Ministério Público. Solto na sexta-feira, por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, que revogou sua prisão preventiva, Delcídio destacou que só pretende se defender na Justiça e no Conselho de Ética do Senado.
– Vou reescrever minha história sem revanchismo – afirmou o senador a amigos.
Leia mais
Ministro do STF revoga prisão do senador Delcídio Amaral
PT tenta evitar que Delcídio presida comissão no Senado
Polícia Federal deflagra 23ª fase da Operação Lava-Jato
O parlamentar era líder do governo até o dia 25 de novembro, quando foi preso sob acusação de tentar obstruir as investigações da Operação Lava-Jato.
– Quero virar essa página – insistiu o senador.
Nem mesmo a expulsão do PT, tida como certa, e as restrições impostas por Teori – como a obrigatoriedade de ficar em prisão domiciliar à noite e nos dias de folga – o desanimam. O que ele quer é manter o mandato e fará de tudo para isso.
Como senador, Delcídio tem foro privilegiado e seu processo penal tramita no Supremo. Se perder o foro, o caso será transferido para a Justiça Federal do Paraná, onde está o juiz Sérgio Moro, que responde pelas ações da Lava-Jato.
– Tudo o que o senador deseja é se concentrar na sua defesa – comentou o advogado Maurício Silva Leite.
– Ele não fez acordo de delação, e isso nem teria cabimento porque tal instituto é incompatível com a atividade parlamentar e com a defesa no Conselho de Ética. Essa hipótese é absurda – reforçou o advogado Luís Henrique Machado, que também o defende.
Renúncia
O PT pressionará Delcídio a renunciar à presidência da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), sob o argumento de que ele deve se concentrar na salvação de seu mandato e no processo penal que enfrenta. Na prática, porém, o partido e o Palácio do Planalto não desejam no comando de uma das principais comissões do Senado um político sob julgamento, denunciado pela Procuradoria-Geral da República.
Mais da metade da bancada do PT subscreveu, na semana passada, um pedido de substituição de Delcídio por Gleisi Hoffmann (PR) na presidência da CAE. Entretanto, os petistas agem com cautela porque temem que, apesar das negativas, ele ainda possa fazer delação premiada e piorar ainda mais a crise do partido e do governo.
Em família
Delcídio passou o fim de semana com a mulher, Maika, duas de suas três filhas e a mãe, Rosely, em Brasília.
– O que eu mais quero é ficar quieto, com minha família – comentou.
Abatido, rabiscou algumas linhas do pronunciamento que pretende fazer nesta terça-feira na tribuna do Senado, no qual dirá que foi vítima de uma gravação feita "sorrateiramente" por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. Essa também foi a linha da defesa apresentada ao Conselho de Ética, onde PPS e Rede pedem a cassação de seu mandato por quebra de decoro parlamentar.
Para o senador, Bernardo só gravou o diálogo porque viu ali a chance de conseguir um acordo de delação premiada para o pai. Na manifestação enviada ao Conselho de Ética, Delcídio disse que menções feitas sobre sua influência política no Supremo não passaram de bravata.
A defesa do senador estuda ainda entrar com novo recurso ao Supremo pedindo explicações sobre "detalhes" da decisão de Teori, como a proibição imposta ao senador de conversar com outros investigados e a obrigatoriedade de recolhimento noturno. Na avaliação de advogados, a decisão pode prejudicar atos inerentes ao mandato, uma vez que o Senado abriga outros 13 parlamentares investigados na Lava-Jato, entre os quais o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e há votações até tarde da noite.