Intimado pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) a depor como investigado na apuração de suposto pagamento de propinas da empreiteira OAS a agentes públicos, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva voltou a negar nesta sexta-feira ser proprietário do triplex 164 A do Condomínio Solaris, no Guarujá. O promotor de Justiça Cássio Conserino diz ter indícios de que houve tentativa de esconder a identidade do verdadeiro dono do imóvel, o que pode caracterizar crime de lavagem de dinheiro.
Em nota, o Instituto Lula classifica como "infundadas" as suspeitas do Ministério Público paulista, e de "levianas" as acusações de "suposta ocultação de patrimônio por parte do ex-presidente Lula ou seus familiares".
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"Lula e sua esposa Marisa Letícia nunca esconderam que ela adquiriu, em 2005, uma cota da Bancoop, paga em prestações mensais, que foi declarada no Imposto de Renda. Mas nunca foram proprietários de apartamento em qualquer condomínio da Bancoop ou de suas sucessoras", diz o texto do Instituto Lula, que conclui: "A verdade ficará clara no correr das investigações".
Entenda o caso
Em 2006, quando se reelegeu presidente, Lula declarou à Justiça Eleitoral possuir uma participação em cooperativa habitacional no valor de R$ 47 mil. A cooperativa é a Bancoop que, com graves problemas de caixa, repassou o empreendimento para a OAS. A Polícia Federal e a Procuradoria da República suspeitam que a empreiteira pagou propinas a agentes públicos em troca de contratos fraudados na Petrobras.
Em depoimento, o engenheiro Armando Dagre, sócio-administrador da Talento Construtora, declarou ao Ministério Público de São Paulo que "praticamente" refez o triplex 164 A. A reforma, contratada pela empreiteira OAS, alvo da Operação Lava-Jato, custou R$ 777 mil, segundo Dagre. Os trabalhos foram realizados entre abril e setembro de 2014.
Armando Dagre disse que o contrato com a OAS para reforma do triplex incluiu novo acabamento, além de uma outra piscina, mudança da escada e instalação de elevador privativo que custou R$ 62,5 mil. Ele disse que não teve nenhum contato com Lula, mas com a ex-primeira dama, Marisa Letícia.
Contou que, um dia, estava reunido com o representante da OAS no apartamento "quando Marisa adentrou o apartamento com um rapaz e dois senhores" e que só depois soube que os acompanhantes da mulher de Lula eram um filho do casal, Fábio Luiz, um engenheiro da OAS e o dono da empreiteira, Léo Pinheiro – condenado na Lava-Jato a 16 anos de prisão por corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
"Em verdade tomou um susto quando vislumbrou a dona Marisa Letícia ingressando no meio da reunião existente no interior do apartamento", disse Armando Dagre.