Os ex-diretor da Área Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró afirmou em delação premiada que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva lhe deu um cargo público – de diretor da BR Distribuidora, uma subsidiária da estatal – como "reconhecimento". O executivo disse ajudou petistas a quitarem um empréstimo de R$ 12 milhões considerado fraudulento pela operação Lava-Jato.
Essa é a primeira vez que o ex-presidente é envolvido diretamente no caso por um delator. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.
Em 2004, o fazendeiro José Carlos Bumlai obteve um financiamento do Banco Schaim e diz ter repassado R$ 6 milhões para o empresário Ronan Maria Pinto, que, segundo a Lava-Jato, tinha informações comprometedoras sobre o PT na região.
Anos depois, sob o comando de Cerveró, a Petrobras teria ajudado o Grupo Schain a vencer uma licitação para o aluguel de um navio sonda para a estatal. O negócio rendeu à Schain mais de R$ 1 bilhão.
O esquema é apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) como uma forma de pagamento por parte do Partido dos Trabalhadores ao empréstimo feito para Bumlai.
Na delação, Cerveró disse que conseguiu continuar na estrutura da Petrobras graças à intermediação desse negócio. Segundo ele, foi o próprio Lula quem decidiu indica-lo para o cargo na BR Distribuidora.
Ainda de acordo com o ex-diretor, coube a Lula garantir que o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) tivesse acesso político à estrutura da BR Distribuidora, com a indicação de nomes para ocuparem cargos na empresa.
Bumlai assume empréstimo mas nega envolvimento de Lula
Em depoimento à Polícia Federal, o pecuarista José Carlos Bumlai admitiu que parte do empréstimo contraído no Banco Schain foi repassado aos caixas do PT, mas isentou Lula de participação no esquema.
Conforme Bumlai, o partido teria sido chantageado pelo empresário Ronan Maria Pinto, que teria pedido R$ 6 milhões para não contar o que sabia sobre o caixa dois do diretório de Santo André e a relação desses recursos com o assassinato do prefeito Celso Daniel, ocorrido em 2002.
Os outros R$ 6 milhões teriam sido enviados ao PT de Campinas para quitar dívidas de campanha, segundo o pecuarista.
Em relação às declarações de Cerveró, o Instituto Lula afirmou, na última segunda-feira, que não irá se manifestar sobre o caso.
"Não comentamos vazamentos ilegais, seletivos e parciais de supostas alegações que alimentam a um mercado de delações sem provas em troca de benefícios penais", dizia a nota divulgada pelo instituto.