Deflagrada na manhã desta segunda-feira, a Operação Palco tem como objetivo coibir crimes comandados de dentro da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). As investigações identificaram a existência de uma parceria entre o líder de uma das principais quadrilhas de ladrões de carros-fortes do Estado com o maior patrão das drogas de Porto Alegre.
Confira quem são os líderes da quadrilha neutralizada na ação:
José Carlos dos Santos, o Seco
Condenado a 173 anos e três meses de reclusão. Natural de Candelária, Seco se notabilizou por comandar ataques a carros-forte na primeira metade dos Anos 2000. Ele foi acusado de pelo menos 14 crimes entre 2002 e 2006 - entre eles, mortes de vigilantes de blindados.
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No dia 10 de abril de 2006, o criminoso foi preso. Utilizando um caminhão, Seco e outros assaltantes derrubaram a parede de uma empresa de segurança em Santa Cruz do Sul e roubaram cerca de R$ 3 milhões. No confronto com policiais que os surpreenderam, os bandidos mataram um capitão da BM. Três dias depois do crime, Seco e um outro assaltante abasteciam um carro roubado e com placas clonadas às margens da BR-386, em Paverama, no Vale dos Sinos, quando foram surpreendidos por policiais do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) da Polícia Civil. Durante a ação, houve troca de tiros e os dois assaltantes foram baleados e presos.
Desde então, Seco está preso na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). Em 2014, Seco foi mais uma vez indiciado, desta vez por comandar roubos de carros e de caminhões de dentro do presídio. À época, a polícia já identificara ligação dele com o tráfico de drogas.
Juraci Oliveira da Silva, o Jura
Condenado a 49 anos e sete meses de reclusão. Desde a década de 1990, é considerado um dos maiores patrões do tráfico em Porto Alegre, possivelmente o maior distribuidor de drogas no varejo. Morador do Campo da Tuca (vila na Zona Leste da Capital) desde os dois anos de idade, ele trabalhava como "aviãozinho" (entregador de droga) já nos anos 1980. A primeira grande venda que fez, 100 quilos de maconha, foi em 1997, droga comprada em troca de um carro. Desde então comanda o tráfico na Tuca e no Morro da Cruz.
Chegou a fugir para o Paraguai, de onde mandava droga ao Brasil e onde foi preso, em 2010. Está condenado pelo assassinato de três pessoas (todas ligadas ao tráfico), três vezes por tráfico e responde por quatro outros homicídios, incluindo a morte do ex-vice-presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremers), Marco Antonio Becker, que teria sido assassinado por comandados de Jura a pedido de outro médico. Jura admite ter ordenado a morte de alguns desafetos, mas nega envolvimento na morte de Becker.
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Do assalto às bocas de fumo em Santa Maria
A Polícia Civil afirma que a quadrilha controlada por Seco tomou bocas de fumo em Santa Maria. O grupo seria ligado à facção criminosa Bala na Cara, uma das maiores do Rio Grande do Sul.
Em Santa Maria, a investigação, coordenada pelo delegado Sandro Meinerz, foi denominada de Operação Palco, em razão dos suspeitos utilizarem-se ao telefone da expressão "eu domino a cena" (em referência à entregas, vendas e transportes de drogas ou dinheiro, além de armas).
Assaltante de carros fortes, Seco não possuía rede de tráfico em Santa Maria e entrou nesta cidade através de Edson Marcos Silva da Rosa, conhecido como Tucano. Antes de ser transferido para prisão em Santa Maria, Tucano esteve recolhido na Pasc, onde fortaleceu relação com Seco. Ele tem casa na Vila Prado e, segundo a polícia, possui familiares envolvidos em crimes de tráfico de drogas e em roubos. Outros seis criminosos foram identificados na investigação, todos ligados à venda de crack, cocaína e maconha.
Seco teria enviado um casal, desde a Grande Porto Alegre, para se associar a traficantes do Beco da Tela, uma zona de forte comércio de drogas em Santa Maria e meta de domínio de Seco. A associação teria sido feita com pai e filha, que comandam o tráfico naquela área. Ele também teria enviado ao Beco da Tela dois irmãos de sua confiança, oriundos de Candelária (sua terra natal), identificados como Cláudio Dionatan Schultz Padilha e Magnum Padilha.
Os acertos para envio de drogas foram documentados em grampos telefônicos. A droga seria fornecida, no atacado, por Juraci Oliveira da Silva, o Jura, patrão do Campo da Tuca, em Porto Alegre. Eles são vizinhos de cela na Pasc e se comunicam, segundo a polícia, através de jibóias (lençóis amarrados), por bilhetes. Conversam também através das janelas, pois uma galeria é sobre a outra.
Jura teria ajudado a intermediar uma briga na quadrilha em Santa Maria, que poderia terminar em chacina. Corroboram isso bilhetes apreendidos em poder dos quadrilheiros ligados a Seco em Santa Maria, onde está citado o Campo da Tuca e, também, gravações telefônicas em que Seco orienta comandados a ir até o Campo da Tuca e falar com o pessoal do "movimento". Um dos bilhetes manda falar com o pessoal do Jura. Um telefonema também fala de uma mulher que foi ao Campo da Tuca entregar armas e pegar drogas, antes de retornar a Santa Maria.
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A inédita parceria dos criminosos fez com que a Roubos, a Delegacia de Furtos, Roubos, Extorsões e Capturas (Defrec) de Santa Maria e a polícia de Caxias do Sul unissem esforços na investigação, que culminou na Operação Palco.