Em um dia de sol, calor e muita tranquilidade, 32 milhões de eleitores argentinos foram às urnas neste domingo para escolher, pela primeira vez na história, um presidente em segundo turno.
Em 10 de dezembro, ou o peronista conservador Daniel Scioli, governador da província de Buenos Aires, ou o liberal conservador Mauricio Macri, prefeito da cidade de mesmo nome, ocupará as dependências da Casa Rosada e abrirá uma nova página para nossos vizinhos.
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As eleições são curiosas por diversos aspectos. Um deles é a semelhança dos dois candidatos, amigos um do outro. Ambos são filhos de famílias ligadas ao setor empresarial e se tornaram conhecidos pelo esporte. Scioli foi multicampeão de motonáutica, e Macri também conseguiu diversas conquistas importantes como presidente do Boca Junior.
A tendência é de vitória macrista. Todos os institutos de pesquisa indicam vitória, em média de 10 pontos percentuais. Scioli venceu no primeiro turno, mas diferença provavelmente insuficiente para compensar a união de uma oposição fracionada. Como candidato que representa a presidente Cristina Kirchner e os 12 anos de kirchnerismo, ele carrega também o desgaste de ser governo.
Nos últimos oito anos, os dois presidenciáveis governaram dois dos cinco maiores distritos eleitorais da Argentina, que juntos representam 70% do Produto Interno Bruto (PIB) do pais. O analista politico Rosendo Fraga salienta o ineditismo, nos últimos 50 anos, de a Argentina não ter um presidente advogado ou militar. Vê na provável vitória de Macri a curiosa presença de um engenheiro no poder, o que, segundo Fraga, pode significar importantes ações de mudança estrutural no país.
O sentimento de tranquilidade nas ruas de Buenos Aires, neste domingo, pode ser consequência de dois aspectos: a população não se entusiasma com nenhum dos dois e está cansada de depositar esperanças na política. O sentimento é de que tanto Macri está convencido da vitória quanto Scioli está resignado com a derrota. Nas ruas, as pessoas veem a eleição de Macri como provável.
Um garçom perguntou à reportagem da Zero Hora sobre as pesquisas, e, ao ouvir que todas elas dão vitória macrista, respondeu que elas se desmoralização, pois Scioli ganhará com o voto das classes mais desfavorecidas, que preferem o peronista em razão das ações sociais do atual governo, apesar do declínio econômico geral.
Scioli e Macri tiveram a vida marcada por acontecimentos traumáticos. O peronista perdeu o braço direito em um acidente de lancha em 1989 e usa prótese. O prefeito de Buenos Aires foi sequestrado em 1991 e libertado duas semanas depois, quando a família pagou um resgate de US$ 6 milhões. As mulheres dos dois candidatos, ambas empresárias da moda, também são muito amigas entre si.
O consenso é de que os dois não terão alternativas: farão governos muito parecidos. Terão de dialogar mais que a atual presidente (tida como centralizadora nas decisões) e precisarão resolver o problema das finanças. Ambos terão de negociar com credores para permitir que a Argenta volte a receber investimentos externos e resolva seus problemas de liquidez. Outro ponto importante: nenhum dos dois terá a oportunidade de governar com maioria legislativa folgada. Ou seja, forçosamente o futuro governo, seja quem for o vencedor, terá de ser mais aberto ao diálogo e à negociação.
Por enquanto, na tarde deste domingo, o único fato mais controverso ocorrido foram as entrevistas dadas pela presidente Cristina aos meios de comunicação quando votou, em Río Gallegos. A Justiça recebeu denúncias de quebrar na legislação eleitoral, porque ela falou sobre seu governo e sobre os 12 anos de kirchnerismo. Mesmo sem muito entusiasmo de sua parte, o candidato governista é Scioli, e os opositores reclamam que ele poderia sair favorecido pelas declarações de Cristina quando a votação ainda estava em curso.
* Zero Hora