Em comunidades submetidas à violência policial, smartphones tornaram-se corregedorias virtuais. Com uma vantagem: quando moradores gravam, em vídeo, abusos praticados por policiais e os enviam para a imprensa, a punição dos maus servidores é quase sempre imediata - sem a burocracia que alimenta a impunidade.
O caso mais recente do uso do celular ocorreu no Morro da Providência, no Rio. Após executar um adolescente (suposto traficante), um PM colocou uma pistola na mão direita do jovem e disparou duas vezes para o alto. Com o enxerto da arma, o soldado, que integrava a UPP da Providência e estava acompanhado de outros quatro colegas, reforçaria a tese de legítima defesa. Afinal, quem contesta a morte de um adolescente que atira contra PM?
A farsa só não vingou porque um morador, usando um celular, filmou a tramoia e a enviou para a imprensa. Em nome da lei, as polícias mataram, no ano passado, em todo país, pelo menos 3.022 pessoas - média de oito casos por dia. É gente suficiente para lotar 15 aviões Airbus A-300, idênticos àquele que caiu em SP, em 2007.
Abusos em áreas de periferia são tão frequentes que, em abril, a ong Witness (Testemunha, em tradução livre) lançou a cartilha "Como filmar violência policial na favela com celular", com apoio das organizações Advogados Ativistas e Artigo 19.
A entidade norte-americana capacita e ajuda "pessoas a usarem o vídeo na luta por direitos humanos". A cartilha, didática, tem sete itens:
1) filme na horizontal (qualidade é melhor);
2) filme detalhes (fardas, rostos);
3) chame outras pessoas para filmar (quanto mais vídeos, melhor);
4) envie para alguém (é bom ter cópia);
5) registre local e hora (placas de rua, relógios);
6) exerça seu direito de filmar (é uma garantia constitucional);
Por fim, mas não menos importante, 7) se não sentir segurança, não filme (avalie todos os riscos).
* Diário Gaúcho