Erros que a presidente Dilma Rousseff admitiu na mensagem de 7 de Setembro são a base da perda do grau de investimento do Brasil. Dois dias após o pronunciamento, a agência de classificação de risco Standard and Poors (S&P) tirou o selo de bom pagador do país, decisão que asseverou a instabilidade política e econômica.
Defesa de Dilma ao TCU cita imprevisibilidade do cenário econômico
- Se cometemos erros, e isso é possível, vamos superá-los e seguir em frente - disse a presidente no vídeo distribuído em redes sociais do governo.
Apesar do mea culpa, Dilma evita apontar falhas. Apenas reconhece que demorou a perceber a situação e que pode ter errado na "dosagem" das medidas adotadas para preservar emprego e renda, a "política anticíclica". Contudo, Planalto e equipe econômica têm o diagnóstico.
Propinas ao PT começaram na P-53 em Rio Grande, diz Pessoa em delação
O ingrediente mais recente foi o envio ao Congresso do orçamento de 2016 com déficit de R$ 30,5 bilhões, citado pela S&P. Além da dificuldade em fechar as contas, escancarou disputas que corroem o governo. Contrário ao envio, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, perdeu a queda de braço com Nelson Barbosa (Planejamento) e Aloizio Mercadante (Casa Civil).
A S&P apontou a falta de unidade interna do Planalto, os impactos da Operação Lava-Jato e a fragilidade petista no Congresso, que murchou o ajuste fiscal, para justificar o descrédito. Na área política, equívocos de avaliação e no trato com aliados afastaram parte do PMDB do governo, mantendo a ameaça de impeachment, o que assusta investidores.
PF pede ao Supremo autorização para ouvir Lula na Lava-Jato
Os erros em série derivam, em parte, de convicções de Dilma - uma economista com apreço por Estado de perfil interventor -, do ex-ministro Guido Mantega e do ex-secretário de Tesouro Arno Augustin. A presidente elevou gasto público - em pessoal e benefícios fiscais - e descuidou da inflação para estimular consumo e crescimento. Enquanto as despesas e a inflação cresceram, o PIB encolheu: fechou 2014 em 0,1% e tem previsão de retração para 2015.
No Piauí, Dilma diz acreditar que reforma no governo dará certo
- Não há ação anticíclica gratuita. O governo agiu para preservar emprego. Quem sabe, se tivéssemos reduzidos um pouco a intensidade, o desequilíbrio para ajustar seria menor - avalia o deputado federal Henrique Fontana (PT-RS).
Oportunidades foram perdidas
Entre as medidas criticadas por especialistas, estão a redução da conta de luz e a desoneração da folha de pagamento. Em ambas, o Planalto era cobrado pela indústria, que à época comemorou. Gerente-
executivo de política econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco admite a pressão do setor, porém, afirma que o governo cometeu excessos e aproveitou para capitalizar ganhos de popularidade de olho na eleição.
- Nas desonerações, a ideia era atender setores com concorrência externa, porém ampliaram para os serviços. Distorceu o objetivo inicial, foi esquecida a sustentabilidade - diz Castelo Branco.
Conselheiro do ex-presidente Lula, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo acredita que Dilma demorou para entender que o ciclo de consumo, efetivo para blindar o país da crise de 2008, se exauriu na metade do primeiro mandato. A mudança brusca com o ajuste fiscal instigou o pessimismo:
- Não podia ter dado um cavalo de pau na economia. Deveria ter feito correções gradativas.
Para Cunha, governo está se "autodestruindo" com discussão sobre impostos
Belluzzo também aponta a demora na conclusão de obras de infraestrutura e no plano de concessões como componente da crise. Para o economista Carlos Cova, CEO da Aleph Educacional, o país perdeu oportunidade de realizar reformas estruturantes quando a popularidade de Dilma era alta - até as manifestações de 2013.
- Ninguém falava de previdência. O exemplo é o Rio Grande que não consegue pagar o salário. O Brasil é o Rio Grande do Sul de amanhã, se não mexer na previdência - alerta.