O pagamento dos salários dos professores, na última terça-feira, não foi suficiente para que a rotina de diversas escolas estaduais - e, com isso, também de pais e alunos - voltasse ao normal. Nesta quarta, estudantes de Porto Alegre e cidades do Interior, como Caxias do Sul, deixaram mais uma vez as salas de aula antes do horário-padrão.
De acordo com o Centro dos Professores do Rio Grande do Sul (Cpers/Sindicato), a mobilização ocorre em mais de 90% das instituições e prossegue até a próxima segunda-feira, véspera de duas assembleias: uma da categoria, a outra, de todos os servidores do Estado.
- A nossa reivindicação vai além do não parcelamento dos vencimentos. É por isso que continuamos, pressionando Estado a mudar a política em relação aos professores. Quanto aos períodos reduzidos, garantimos que as escolas irão recuperá-los, pois não estamos brigando com nossos alunos, mas com o governo - afirma Helenir Aguiar Schürer, diretora do Cpers.
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Para o vigilante noturno Luciano Branco, 45 anos, o turno reduzido na Escola Olintho de Oliveira, onde os filhos estudam, significa, na prática, horas a menos de sono. Branco chega às 7h em casa, horário em que a esposa sai para o trabalho. É tarefa dele cuidar de Henrique, sete anos, e Carolina, nove, no período da manhã. Antes da manifestação dos professores, ele levava os filhos para a aula às 13h30min e ia direto para a cama. Agora, como mora no bairro Teresópolis, e as crianças estudam na Cidade Baixa, nem volta para casa. Não vale a pena. Então, Branco fica duas horas, até as 15h30min, perambulando pelas ruas da região central. Busca os filhos, chega em casa e já é hora de ir para o serviço mais uma vez - com mais sono ainda.
- A gente entende que os professores precisam de aumento, mas não tem como não pensar nos pais e nos filhos. Como fica a nossa situação? Eu tive que pedir para alterar minha escala no trabalho, deixando de fazer hora extra e, com isso, ganhando menos, para poder dormir de forma decente pelo menos a cada dois dias - diz.
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O que Henrique e Carolina acham disso? Quando pensam que têm mais tempo fora da escola para aproveitar o dia, a reposta é uma:
- Bom!
Mas o pai logo lembra: provavelmente eles terão aulas aos sábados para recuperar a carga horária perdida. Então:
- Ruim! - dizem, em coro.
Na tarde de ontem, o avô de Felipe, oito anos, estudante do 3º ano, estava mais uma vez no portão da Escola Olintho de Oliveira. Foi o jeito que a família encontrou de resolver a situação, uma vez que os pais do menino trabalham neste horário. O aposentado Edgar Sanchez, 52 anos, não se importa de buscar o neto, "muito pelo contrário", mas vê um outro lado:
- Eu sou a favor dessa mobilização dos professores, entendo as reivindicações. Mas fica mais fácil compreender no meu caso, que posso vir buscar meu neto no horário em que os pais dele trabalham. O problema é que tem gente que não pode. Aí complica.
Foto: Jefferson Botega / Agência RBS
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Para o comerciante José Luis Hahn, 50 anos, a rotina só não é pior porque encontrou a compreensão do chefe. No meio da tarde, ele tem permissão para escapar do trabalho, no Centro, e buscar a filha no Instituto de Educação Flores da Cunha, no Bom Fim - onde as disciplinas, antes lecionadas em 50 minutos, agora são repassadas em meia hora. Hahn deixa Maria Luiza, 11 anos, aluna do 5º ano, sozinha em casa e volta a trabalhar. Por sorte, a irmã mais velha chega logo depois, aliviando a preocupação da família. Maria Luiza, no entanto, segue com a pulga atrás da orelha:
- Não é fácil aprender em um curto período, fica bem mais difícil para pegar a matéria. E logo mais vai ter prova, aí quero ver como vai ser.
Procurada por Zero Hora, a Secretaria Estadual de Educação disse não ter um levantamento de quantas escolas seguem com turno reduzido. Conforme a pasta, cada instituição que adotar a redução da hora-aula deverá reajustar seu calendário letivo, encaminhando-o para sua respectiva Coordenadoria Regional de Educação.
* Zero Hora
![Jefferson Botega / Agencia RBS Jefferson Botega / Agencia RBS](http://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/17566521.jpg?w=700)
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