Yannis Koutsomitis é um analista político grego, especializado em Economia. Ele votou sim no plebiscito. É respeitado, porém, até no gabinete do ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, que condiciona sua permanência no cargo à vitória do "não".
A pedido de Zero Hora, Koutsomitis fez previsões para o futuro do país. Confira os principais trechos da entrevista concedida neste domingo, em Atenas.
O que se pode projetar sobre o futuro da Grécia?
É difícil prever, porque não se sabe como o governo vai reagir. Se o não vencer, como quer o governo, não se sabe se as negociações vão recomeçar imediatamente, como o governo diz, e se os líderes europeus vão querer negociar rapidamente. Ainda que seja rápido, o que não é realista, até porque um acordo precisa passar por mecanismos democráticos de aprovação nos parlamentos, especialmente na Alemanha, na Finlândia e até na Grécia. E, se houver um acordo, é preciso que o governo concorde com sua implementação, o que significa inspeções mensais dos credores. Vai ser muito difícil para o governo aceitar as mesmas pessoas entrando nos ministérios, os executivos em seus ternos escuros com as quais o governo foi tão agressivo.
E se o sim vencer?
Será outra situação estranha para o governo, que terá sido derrotado em sua posição. Aí a questão que se levanta é como um governo que não acredita em um acordo vai assiná-lo.
O ministro das Finanças, Yannis Varoufakis, diz que vai renunciar. O primeiro-ministro não faria o mesmo?
Não está muito claro. Não acredito que Tsipras seja o problema. O problema é a consistente maioria de 162 em 300 parlamentares. A evolução mais provável seria um novo governo de Syriza, com Tsipras ou não, talvez o vice-primeiro-ministro, Yannis Dragasakis, com participação de partidos de oposição, para administrar a aplicação do acordo. mas isso seria um terremoto político.
Alguns eleitores dizem que, para as pessoas comuns, qualquer resultado teria o mesmo efeito. Isso é verdade?
Se sair um acordo como o que estava previsto, ou um parecido, com pequenas variações, sim. Mas se não houver acordo, o resultado não será o mesmo. Será muito pior. Poderá haver grande aumento do desemprego, um salto no nível de pobreza e sérias complicações para o funcionamento do Estado. Então não será o mesmo se não houver acordo. O governo diz que o voto não garante o acordo, mas eu não estou convencido.
A situação da Grécia é parecida com a do corralito argentino, que tentou restringir saques nos bancos?
Não vejo muita semelhança, mas acrescentaria a palavra "ainda".
Sem considerar os desdobramentos do corralito, os dias iniciais, com filas nos bancos e muita tensão, não são semelhantes?
Sim, há semelhanças, mas a Argentina tem um forte setor agrícola, com boas retaguarda de fornecimento de comida, que pode decretar moratória e esperar meses, mesmo com dificuldades, por uma disputa com os credores. A Grécia não está na mesma posição, uma vez que importa quase 80% da carne e 60% dos vegetais que consome. Então pode haver problemas no abastecimento de comida caso as negociações se prolonguem por muito tempo. Por outro lado, tenho observado que o povo grego tem demonstrado um notável controle em expressar seu descontentamento, sua raiva. Não houve incidentes de pessoas saqueando ou depredando patrimônio. Na sexta-feira, quando houve duas manifestações de grupos opostos no mesmo horário, eu estava muito preocupado, mas tudo correu bem, não houve incidentes. A sociedade pode estar dividida entre duas opções, mas isso ainda não se materializou em um grande abismo na sociedade.
Entrevista
Yannis Koutsomitis: "Não se sabe como o governo vai reagir"
Para analista político grego, vitória do não dificultará acordo com credores
Marta Sfredo
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