O cenário estava montado para que, finalmente, o impasse surgido com a moratória grega de 30 de junho terminasse com a vitória total dos credores. Depois de um impasse de cinco meses nas negociações entre o governo de Alexis Tsipras e os representantes da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional e de um plebiscito no qual 61% dos eleitores helênicos respaldaram a posição de seu primeiro-ministro, Atenas aceitou praticamente todos os termos ditados por Bruxelas e Berlim. Até mesmo o ministro das Finanças que simbolizara a política antiausteridade, Yanis Varoufakis, pediu o capacete e se retirou de cena, sendo substituído pelo menos carismático Euclid Tsakalotos. Até mesmo o parlamento, onde Tsipras conta com uma estreita maioria entre os 300 deputados, chancelou a capitulação.
Eurogrupo deixa decisão sobre a Grécia para os líderes da zona do euro
Ministros e credores querem mais comprometimento da Grécia
A carta de Tsipras aos credores, na qual o premier aceita o aumento do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) nas ilhas gregas, o fim do abono para aposentados mais pobres e a privatização de dois importantes portos, a redução do orçamento militar, tudo isso emoldurado por um acordo de reestruturação até 2018. Não poderia haver bilhete de rendição mais inequívoco, nem triunfo mais completo para os sumos sacerdotes da austeridade. Num primeiro momento, a carta foi considerada auspiciosa pela antiga Troika.
E então a cúpula dos chefes de governo da zona do euro mostrou que, afinal, não é apenas rendição que se exige da Grécia. O ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, havia feito circular já na sexta-feira a proposta de saída temporária da Grécia da zona do euro por cinco anos - tempo suficiente para que o mandato de Tsipras, que expira em 2018, faça parte do passado defunto. Entre os "novos falcões" europeus, a Alemanha recebeu o reforço da Finlândia e da Eslováquia, cujos governos não disfarçam o desejo de ver a Grécia fora.
As condições tornaram-se mais duras ao longo do final de semana, numa evidente tentativa de forçar a divisão da coalizão que sustenta Tsipras e a queda do governo. Em vão o novo líder do principal partido de oposição, Nova Democracia, teria dito ao premier que aceite tudo, mas rápido. Está claro que as exigências só aumentarão à medida que Atenas se tornar mais maleável.
Apesar do fechamento dos bancos, da pressão feita pelos porta-vozes conservadores e socialdemocratas de cada país europeu e da ameaça de desligamento da área da moeda única, ainda assim os gregos votaram não em 5 de julho. Fortalecido pelas urnas, mas disposto a sacrificar seu programa a fim de manter o país na zona do euro, Tsipras contrariou 3 milhões de gregos e aceitou todas as exigências de seus credores. Mas há uma pergunta a ser respondida: em nome de quê ou de quem Angela Merkel, Wolfgang Schäuble e Peter Kaimír se arrogam o direito de decidir quem deve governar a Grécia?