Interceptação feita pela Polícia Federal revela que o celular do agricultor Anderson de Souza, 27 anos, foi usado depois da sua morte. Ele e o irmão Alcemar Batista de Souza, 41 anos, foram assassinados em 28 de abril de 2014, após furarem barreira montada por índios caingangues em estrada estadual, em Faxinalzinho, norte do Estado.
Pessoas que se comunicavam em caingangue acessaram o Facebook do aparelho de Anderson e também telefonaram, de acordo com rastreamento eletrônico transcrito no inquérito entregue à Justiça na semana passada. A PF indiciou 26 indígenas pelas duas mortes.
Cinco caingangues chegaram a ser presos pela PF em maio de 2014 por suspeita de envolvimento, mas foram soltos após pouco mais de 30 dias. Entre eles, estava o cacique Deoclides de Paula,
41 anos, que foi indiciado, segundo a PF, por supostamente comandar a ação que resultou nas mortes. Na época, em entrevista a ZH, ele disse que o conflito ocorreu por culpa da indefinição do Ministério da Justiça sobre a disputa de terras entre índios e colonos no Norte.
Nenhum dos indígenas concordou em prestar depoimento à PF. Eles deverão responder pelos crimes em liberdade.
O inquérito policial será examinado pelo Ministério Público Federal em Erechim. O documento traz detalhes do caso, revelados com exclusividade por ZH (veja ao lado). O procurador da República Carlos Eduardo Raddatz Cruz estuda os indiciamentos. Os que considera mais sustentados são de caingangues vistos por testemunhas deixando o milharal onde os agricultores foram mortos.
- Pedimos investigações complementares. Nos próximos dias, nos pronunciaremos - diz Cruz.
A Defensoria Pública da União, que assumiu a defesa dos indígenas, orientou-os a falar somente na Justiça e prefere não se pronunciar no momento.
Outras descobertas da polícia federal
Agricultores teriam feito reféns: uma testemunha, cujo nome é mantido em sigilo, indica o motivo pelo qual os índios ficaram irados com os agricultores. Os irmãos teriam tomado dois adolescentes caingangues como reféns, após furarem a barreira. Os jovens teriam sido mantidos na mira de uma espingarda pertencente a Alcemar.
"Nessa hora, alguém falou em caingangue para que os meninos se abaixassem, momento em que um dos índios fez o disparo" descreve a testemunha.
A espingarda supostamente usada por Alcemar foi descoberta, enterrada, próximo ao local das mortes. A arma foi periciada e não teria sido usada nos assassinatos.
Dezenas de ferimentos: a perícia comprova que Alcemar sofreu 34 ferimentos, entre os quais um provocado por tiro e outro por lança. Teve a cabeça atingida por pedras e paus. Anderson sofreu 25 ferimentos, entre tiros e pauladas. Advogado da família dos mortos, Jabs Paim Bandeira diz que usará essas informações no júri.
DNA inconclusivo: a PF solicitou teste de DNA de dezenas de índios suspeitos pelo assassinato. Diante da negativa da maioria, foram testadas amostras genéticas colhidas em objetos apreendidos com três suspeitos, para comparação com material colhido no local do assassinato. Nenhuma deu positiva, mas a perícia admite que isso pode ser apenas um indício inconclusivo.