Pela primeira vez, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a violência contra jovens negros chegou a Porto Alegre. Em audiência pública em um Plenarinho lotado na Assembleia Legislativa do Estado, as causas e os custos sociais do tema foram debatidos entre deputados, autoridades e integrantes do movimento negro.
Instalada em março na Câmara dos Deputados, a CPI vem promovendo audiências em diferentes Estados e realizando diligências em comunidades carentes. Nesta tarde, membros da comissão seguirão para o bairro Restinga, na Capital, para ouvir a população.
- Há um racismo institucionalizado, disfarçado, simulado no Brasil, que é pior do que o racismo - disse o presidente da CPI, deputado Reginaldo Lopes (PT-MG). - Precisamos reparar danos aos negros, que sempre foram vítimas e abandonados pelo Estado.
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Na próxima terça-feira, será apresentado o relatório final da CPI, que irá à votação. O objetivo é elaborar planos nacionais, estaduais e municipais de enfrentamento a homicídios com três metas: elevar a taxa de elucidação de crimes para 80% em 10 anos, reduzir a vitimização e a letalidade policial.
Na Câmara, a CPI causou polêmica nesta semana. No relatório preliminar da comissão, reconhece-se o racismo como institucionalizado na população brasileira e o que foi classificado como genocídio da população negra. O texto fez com que um dos membros da comissão, o deputado Éder Mauro (PSD-PA), apresentasse uma proposta alternativa.
- Não podemos aceitar uma CPI que queira direcionar que a família brasileira é racista e que, dentro do país, existe genocídio. Isso não é verdade. O brasileiro não é racista, excetuados os casos pontuais e que devem ser punidos com rigor. As instituições não têm caráter racista - afirmou Mauro, na quinta-feira.
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Conforme dados apresentados na audiência pública, baseados no Mapa da Violência de 2014, negros correspondem a 71% dos jovens mortos por homicídios em 2011.
- O extermínio já é reconhecido como uma expressão possível porque sabemos que, quando se olha todos os dados de segurança pública, a população negra é a vítima - disse o secretário nacional da Juventude, Gabriel Medina.
Na audiência pública, teve quem classificasse a CPI como ato político.
- Acho importante a vinda da CPI, mas, quando falamos em racismo, ele é tão natural no Brasil que não nos damos conta de pequenos detalhes. A primeira mesa (de autoridades, na audiência pública) era composta praticamente por homens brancos. Não tem como falar sobre racismo e violência sem dar voz à juventude negra - apontou Gleidson Dias, do Movimento Negro Unificado.
Ao decorrer da audiência, o microfone foi aberto ao público e outras duas mesas foram compostas - parte delas, com integrantes de movimentos sociais que lutam pela causa negra.
* Zero Hora
Audiência pública
"Há um racismo institucionalizado", diz presidente de CPI que investiga violência contra jovens negros
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Débora Ely
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