Pela segunda vez em menos de uma semana, Ivo de Oliveira, 58 anos, e a mulher, Neli, 56 anos, tiveram de abandonar a casa onde vivem, no bairro Ezequiel, em Esteio, na Região Metropolitana. Após deixarem a residência na Rua Cabreúva com água na altura do pescoço na quinta-feira (15), o pedreiro e a dona de casa voltaram para o local no fim de semana, mas tiveram de sair do imóvel - novamente invadido pelas águas - nesta segunda-feira (20).
Diferentemente da maior parte dos vizinhos atingidos pela enchente, alojados na Igreja São Sebastião e na Escola Ezequiel Nunes Filho, os dois optaram por abrigar-se no próprio carro. Assim, o velho Santana 1995, estacionado na rua Guido Possamaia, tornou-se nos últimos dias o lar do casal.
Enquanto a filha, Sandra, dorme no salão da igreja, e as cadelas Mel e Pretinha seguem sob os cuidados de amigos, Ivo e Neli compartilham os acanhados metros quadrados do interior do veículo, fabricado há 20 anos. Na hora de comer ou ir a o banheiro, apelam para o abrigo público.
- Perdemos tudo. Não temos mais nada. Viemos com a roupa do corpo para o carro - diz Neli.
Governo decreta emergência coletiva para cidades atingidas pela chuva
Chuva afeta mais de 25,8 mil pessoas no Rio Grande do Sul
Veteranos enchentes no bairro, os dois foram surpreendidos pela rápida elevação do nível das águas, por volta das 16h da última quinta. Segundo eles, até então as inundações nunca passavam de 30 ou 40 centímetros. Só que, desta vez, a coisa foi diferente:
- Agora, a água deu pelo queixo. Mas o importante é que não perdemos ninguém da família - comenta a dona de casa.
AO VIVO: acompanhe os transtornos causados pela chuva no RS
Na Igreja São Sebastião, além da filha de Ivo e Neli, estão alojadas cerca de 120 pessoas que tiveram as casas invadidas pelas águas. Moradora da Rua Suriname, a cerca de 20 metros de um valão, a auxiliar de cozinha Janete Soares, 49 anos, perdeu tudo o que tinha - móveis, eletrodomésticos, roupas e mantimentos.
O roteiro foi semelhante ao enfrentado por Ivo e Neli: depois de voltar para casa no final de semana, a família foi expulsa do imóvel devido à súbita elevação no nível das águas. Além de Janete e os três filhos, seu irmão (Marcos) e os seus sobrinhos (Maicon, João Pedro e Igor) também tiveram de deixar a residência onde moram.
- Todo o ano tem enchente. Todo ano temos de batalhar para conseguir todas as coisas de novo, para depois perder e conseguir tudo de novo. Salvamos só a roupa do corpo - desabafa a auxiliar de cozinha.
Um dos três filhos de Janete, o militar Leonardo Soares, 18 anos, conta que a família já está acostumada às seguidas cheias no bairro. A diferença foi a altura que as águas atingiram.
- A gente levantou tudo o que podia, como sempre faz. Achamos que a água não ia subir tanto. Mas passou de dois metros - afirma Leonardo.