Na terça-feira que vem, o Hospital Restinga e Extremo-Sul completa um ano. Mas ainda enfrenta a lentidão burocrática e não oferece todos os serviços prometidos. Apesar da demora, a Associação Hospitalar Moinhos de Vento (AHMV) - responsável pela gestão - e a Secretaria de Saúde de Porto Alegre (SMS) garantem que o hospital não será fechado.
Os órgãos se baseiam nos serviços abertos ao longo deste período, como a unidade de diagnóstico, e os que serão iniciados nos próximos dois meses, entre eles a agência transfusional, para realização de transfusões de sangue, e o lactário, unidade destinada ao preparo, higienização e distribuição de preparações lácteas aos pacientes.
- Está totalmente fora de cogitação a paralisação do hospital. Estamos fazendo um novo estudo de viabilidade econômica para solicitar a ampliação de verbas do governo estadual e do Ministério da Saúde - diz o superintendente do Instituto de Educação e Pesquisa do Moinhos de Vento, Luciano Hammes.
Hoje, os gastos mensais do Hospital Restinga e Extremo-Sul são de R$ 4,6 milhões. Por ter atendimento 100% Sus, a unidade recebe verbas do Ministério da Saúde (50%), do Estado (25%) e do Hospital Moinhos de Vento (25%), via filantropia acordada no Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sus (Proadi-Sus).
Conforme Luciano, pelo contrato firmado com o Sus, o Moinhos de Vento repassa para a operação do hospital 30% dos valores da filantropia - cerca de R$ 1,2 milhão mensais. Os outros 70% devem ser destinados a novos projetos envolvendo o próprio hospital - como a Escola de Gestão em Saúde e a compra de equipamentos.
Até 2016, por exemplo, serão destinados mais R$ 23 milhões para obras e para a compra de equipamentos que compreendem a finalização do Bloco Cirúrgico, do Centro Obstétrico, da CTI adulto e dos demais leitos de internação.
- Não podemos passar dos 30% já acordados. Estes serviços só poderão se iniciar se houver aumento de valores nas contrapartidas - afirma Luciano.
Promessas não cumpridas
Em maio do ano passado, antes da inauguração, a então secretária Estadual de Saúde, Sandra Fagundes, prometeu o funcionamento pleno da instituição em até seis meses após a abertura - inclusive com UTI, Centro Obstétrico e Bloco Cirúrgico.
Os atuais gestores contestam a garantia dada por ela na época, mas reconhecem que o andamento está mais lento do que o desejado por conta dos novos contratos ainda não assinados - e necessários para dar continuidade ao projeto pleno.
- Os cortes da União atingiram todas as esferas, incluindo a Saúde. Por isso, a Secretaria e o Moinhos estão juntos num processo de estudo do impacto financeiro para ver o que pode ser enxugado nos gastos com o objetivo de abrir novos serviços. Mas não existe a possibilidade de fechamento - afirma o secretário municipal da Saúde, Fernando Ritter.
Mesmo com os gestores afirmando que o hospital seguirá em desenvolvimento, quem acompanhou a saga de quase quatro décadas segue apreensivo. É o caso do presidente do Comitê Pró-Construção do Hospital Geral da Restinga e Extremo-Sul, Nelson da Silva.
- São tantas informações desencontradas que já não sabemos mais em quem acreditar. A comunidade está angustiada por respostas concretas porque foi uma conquista de muitos anos de luta - diz.
Evelyn (D) terá seu bebê no Clínicas | Foto: Mateus Bruxel
Sem Centro Obstétrico, gestantes percorrem, pelo menos, 30km
Entre os espaços do hospital mais desejados pelas comunidades do Extremo-Sul, e ainda não abertos, está o Centro Obstétrico. A justificativa está na distância que as futuras mães percorrem para ganhar os bebês: são pelo menos 30km até o hospital mais próximo. Muitas, até hoje, acabam dando à luz no caminho.
Para isso não ocorrer, a dona de casa Mariselia dos Santos, 33 anos, da Vila Chácara do Banco, transferiu-se para Viamão até ganhar a filha mais nova, Lindsey Ohana, oito anos. Com gravidez de risco, Mariselia se tratava no Hospital Conceição.
- Precisava pegar seis ônibus de ida e volta para me deslocar da Restinga até a Zona Norte. Optei por ficar na casa da minha mãe, onde eu pegava apenas dois para ir e voltar - recorda.
Agora, é a filha mais velha de Mariselia quem teme ganhar o primeiro filho antes de chegar ao Hospital de Clínicas. Grávida de seis meses, Evelyn dos Santos, 18 anos, faz o pré-natal no posto de saúde do bairro e todos os exames no Centro.
- Já estamos deixando um dinheiro reservado para o nascimento da Myrella. Meu medo é sentir as contrações nos horários de pico. Se tivesse o serviço no bairro, eu não ficaria tão apreensiva - comenta.
Geanice elogia o cuidado dispensado a Gabrielly | Foto: Mateus Bruxel
Serviços oferecidos são aprovados pelos usuários
Neste primeiro ano de funcionamento, os serviços já disponíveis no Hospital da Restinga são saudados pelos moradores. Quem utilizou os serviços disponibilizados agradece. Geanice de Fátima da Silva,
31 anos, da Vila Rocinha, elogia o atendimento nas quatro vezes que necessitou da emergência. Em três delas, com a filha Gabrielly da Silva Ramires, um ano e oito meses. Na quarta-feira passada, a menina foi internada com quadro de pneumonia:
- Antes, eu precisava ir até o Centro. Hoje, consigo resolver os problemas por aqui. Quem reclama precisa ter consciência de que o serviço oferecido é para emergência, e não para uma dor no pé.
Na linha de frente para atender quem chega à emergência está a voluntária Maria da Graça Velasques, 59 anos, do Bairro Cristal. Há 30 anos, Maria da Graça realiza trabalhos voluntários no bairro em outras áreas. Esta é a primeira vez em que ela se dedica uma vez por semana à saúde. Junto com Maria da Graça, outros nove moradores voluntários foram treinados para acolher e explicar a quem chega ao hospital sobre o trabalho realizado no local.
- As pessoas chegam meio perdidas e, quando enxergam o meu crachá, me procuram. Tento orientar no que for possível. É um serviço que jamais imaginava realizar - conta, faceira.
Para quem conseguiu emprego no local, a vida melhorou
Entre abril e maio, o hospital ouviu 124 colaboradores que moram na região. A meta era saber se, a partir da contratação, teriam ocorrido modificações nas vidas destes funcionários. Os resultados mostraram que o tempo médio de deslocamento para o trabalho diminuiu em um terço. Já 86,4% deles disseram que a vida - renda, atividades sociais, tempo com a família e lazer - melhorou.
- Isso é qualidade de vida! - comemora a gerente médica do hospital, Gisele Nader.
*Diário Gaúcho
