Começo este texto com uma confissão: tenho um carro. Sei, em tempos de incentivo ao uso de bicicletas e campanhas muitas vezes raivosas contra os que preferem o automóvel isso soa quase como um crime, mas enfim, é a verdade.
E, como usuário diário desse veículo em meus deslocamentos, basicamente de casa para o trabalho, me transformo em refém de um grupo: os donos de distribuidoras e postos de combustíveis. E não tenho como escapar.
O comportamento do preço da gasolina é algo que me intriga, como consumidor e jornalista. Há pelo menos 15 anos, trabalho cobrindo a área econômica e aprendi, desde cedo, que a relação entre a oferta de um produto e a procura por ele determina o preço. Muita gente querendo comprar a mesma coisa, sobe. Do contrário, baixa.
No Dia da Liberdade de Impostos, três cidades gaúchas tiveram gasolina a R$ 1,95
Agora, vamos dar uma olhada no comportamento da gasolina. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) faz pesquisas semanais e publica os valores em seu site. Está lá, disponível para quem quiser acompanhar. Em janeiro, pagávamos em Porto Alegre, em média, R$ 2,967 pelo litro. Daí veio o aumento de tributos promovido pelo governo federal e saltou para R$ 3,297 em fevereiro, acima do impacto que havia sido previsto, de R$ 0,22.
Foi um teste para ver a receptividade do consumidor, em um período de férias e Carnaval, com maior consumo. Em março, já baixou para R$ 3,218. Em abril, R$ 3,124. Eu estava quase no paraíso, conseguia abastecer, em alguns postos, por até R$ 2,99.
Mas daí chegou maio. E, de um dia para outro, ocorreu uma mágica. A gasolina subiu e eu não encontrava mais, no meu trajeto, os preços que antes via. Surgiu um tabelamento nas ruas por onde passo: R$ 3,29. A pesquisa da ANP confirmou: a média do mês passado foi de R$ 3,230.
E eu me perdi. Pelas vias econômicas, fiquei tentando encontrar o fato que teria motivado um crescimento tão grande de consumo a ponto de encorajar os donos de postos a aumentar tanto o preço. Fiquei imaginando se meus amigos que trocaram o carro pela bike (os quais invejo) tinham mudado de ideia, quem sabe estimulados pela chegada do frio. Mas não, eles seguem de bicicleta, não dão bola para isso.
E eu fico tentando encontrar uma explicação. Mas sem rodar por aí, porque isso está impossível de fazer.
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