Flaubert Brutus, 25 anos, frentista de um posto de gasolina no Centro de Canoas, quase não fala português. E as palavras do haitiano que está há cinco meses no Brasil diminuem mais ainda quando o assunto é o vídeo gravado no posto, em que ele aparece sendo hostilizado por um homem justamente por ser estrangeiro.
- Já vivi em outros lugares e Brasil tem mais discriminação - afirma.
O primo de Flaubert, Iveno Genestant, no Brasil há três anos, concorda:
- De dez pessoas que vem aqui e perguntam se somos haitianos, oito nos dizem "bem vindos". As outras duas, não gostam. Não sei porque.
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No momento da gravação do vídeo, que circulou intensamente na internet na semana passada, nenhum dos gerentes do posto estava no local. Os funcionários que acompanharam a ação chegaram a anotar a placa do carro e passaram para a Polícia Rodoviária Federal, mas o carro não foi encontrado. Os dois dias seguintes à divulgação do vídeo foram os piores.
- Não me senti bem. Meus amigos e família no Haiti viram o vídeo no Youtube. Ele "me fez discriminação" - conta Flaubert.
Era tanta gente procurando Brutus que a gerência do posto chegou a "isolá-lo", impedindo que muita gente se aproximasse. Com o tempo, perceberam que muitos chegavam ao local para dar apoio.
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- Vimos que muita gente vinha falar que era contra toda a situação. Achamos melhor mostrar para ele todo esse apoio. Eles (os haitianos) trabalham muito bem, são ótimos funcionários e aprendem rápido - afirma Volmir, um dos gerentes do posto.
Um dos grupos que repudiou a ação foi a Frente Canoense Pelos Direitos Humanos, que realizou uma panfletagem em frente ao posto na noite de sexta-feira. O coordenador do movimento, Almir Rodrigo Gehrat, explica que a intenção é repudiar a ação sofrida pelos haitianos e conscientizar a população sobre a diversidade.
Entenda
Na semana passada, circulou na internet um vídeo em que um homem, identificado como Daniel Barbosa, aborda o frentista. Ele ironiza a presença dos estrangeiros, dizendo que eles tem "sorte" por estar empregado quando o Brasil passa por uma situação tão difícil de desemprego. O vídeo original foi apagado, mas foi postado em outras contas.
Em entrevista ao portal Terra, Daniel negou que o vídeo seja uma ação xenófoba ou discriminatória. Ele alegou que se tratava apenas de uma investigação para saber se a vinda do estrangeiro estava ligada a uma possível implantação de um regime de esquerda no país, com a ajuda de paramilitares.
Polêmica
"Brasil tem mais discriminação", diz haitiano hostilizado em vídeo em Canoas
Flaubert Brutus trabalha em um posto de gasolina há dois meses e está há cinco no Brasil
Elana Mazon
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