Transcorreu por quase nove horas - das 10h até às 18h45min - a acareação entre o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef, nesta segunda-feira, na superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Os dois são delatores do esquema de corrupção na estatal do petróleo investigados pela Operação Lava-Jato.
Os depoimentos, com os dois envolvidos colocados frente a frente, foram acompanhados por delegados da Polícia Federal e procuradores do Ministério Público Federal que atuam nos inquéritos que tramitam no Supremo Tribunal Federal, em que são investigados políticos detentores de foro privilegiado. A acareação foi uma demanda da força-tarefa concentrada em Brasília.
Entre os objetivos dos investigadores estava o esclarecimento de divergências entre as versões de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef para fatos relacionados à campanha eleitoral de 2010. Uma das dúvidas se refere à suposta doação de R$ 2 milhões para a campanha de Dilma Rousseff em 2010. A outra questão está vinculada a um pagamento também de R$ 2 milhões para Roseana Sarney na mesma eleição. Mas não ocorreram avanços: conforme relataram os advogados, os delatores mantiveram versões divergentes sobre o que teria ocorrido.
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Youssef está preso em Curitiba, na superintendência da PF, desde março de 2014. Já Paulo Roberto Costa progrediu à prisão domiciliar, no Rio de Janeiro. Ele foi levado por agentes da PF para Curitiba, onde chegou no domingo, permanecendo em um hotel, sempre na presença de policiais.
Também nesta segunda-feira, às 15h, tiveram início os depoimentos de parte dos detidos na última sexta-feira, na 14ª fase da Operação Lava-Jato, focada na apuração de pagamento de propina e formação de cartel pelas empresas Odebrecht e Andrade Gutierrez na obtenção de contratos junto à Petrobras.
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O primeiro a depor foi o executivo Alexandrino de Alencar, da Odebrecht, que era representante dos interesses da empreiteira em negociações. Ele tinha trânsito no Rio Grande do Sul, onde participava de reuniões de diretoria da Fiergs e da Federasul. Ele também tinha relações profissionais com a Braskem, que conta com unidades industriais em Triunfo e escritório administrativo em Porto Alegre, braço petroquímico da Odebrecht.
Conforme os delatores do esquema revelaram à PF, Alexandrino participava de reuniões do cartel de empreiteiras como representante da Odebrecht e organizava o pagamento de propina da empresa, via transferências em contas secretas no exterior, aos ex-diretores da Petrobras.
A intenção dos investigadores da PF é concluir, ainda nesta segunda-feira, os depoimentos dos outros três que, assim como Alexandrino, foram presos de forma temporária, por cinco dias. Entre eles, estão Antônio Pedro Campelo de Souza, Flávio Lúcio Magalhães e Christina Maria da Silva Jorge. A detenção destes quatro alvos da PF expira nesta terça-feira. As autoridades ainda não decidiram se irão solicitar à Justiça a prorrogação do prazo.
- Ele jamais foi diretor da Andrade Gutierrez e jamais pertenceu aos quadros dessa empresa. Ele esclareceu isso. Espero que fique esclarecido - resumiu o advogado Guilherme San Juan Araújo, advogado de Flávio Lúcio Magalhães.
Durante o dia, foi intensa a movimentação de advogados no prédio da superintendência da PF em Curitiba. Também estiveram no local cinco pessoas portando cartazes de protesto. Quando as câmeras de TV eram ligadas, eles se posicionavam no raio de captação da lente e mostravam os seus materiais. Um dos escritos dizia: "Marcelo, seja sincero ou será Marcos Valério". Outro complementava com a frase "Coragem, rapaz, deixa o Lula para trás. #FalaMarcelo."
As manifestações se referiam ao presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, preso desde a última sexta-feira. Como a sua empresa, a maior do Brasil no setor, fez doações ao Instituto Lula, acredita-se que ele possa revelar algo comprometedor sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que frequentemente utilizava jatos da construtora para viajar. *Com Estadão Conteúdo
Delatores confirmam pedido de R$ 1 milhão de ex-ministro
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa sustentou em acareação com Alberto Youssef que o ex-ministro de Comunicação Paulo Bernardo solicitou R$ 1 milhão para o esquema de cartel e corrupção na Petrobras. Os delatores apontam o pagamento do valor para a campanha de 2010 da ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann (PT-PR), que foi eleita senadora naquele ano. Bernardo é marido da senadora.
Um dos pontos de divergência explicado foi o de quem efetivamente teria entregue os valores pedidos por Paulo Bernardo. O doleiro não ter sido ele pessoalmente o efetivador das entregas.
Paulo Bernardo não foi encontrado para comentar o assunto nesta segunda-feira. Em outras ocasiões, ele afirmou que "não pediu nem recebeu qualquer importância" do doleiro Alberto Youssef.
A senadora Gleisi Hoffmann tem sustentando que desconhece Youssef e que "todas as doações constam na prestação de contas aprovada pela Justiça Eleitoral."
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