Todo mundo já viu um brasileiro sem noção no Exterior. É o tipo que vai ao Louvre, reclama por não encontrar fone de visita guiada em português, passa pela Mona Lisa e pela Vitória Alada de Samotrácia e diz: "Chega, cadê a saída?". Ou faz selfie sorridente diante do portão de Auschwitz. Ou se irrita porque os motoristas de táxi de Budapeste não falam inglês e os recepcionistas de hotel em Tóquio não entendem espanhol.
O terremoto no Nepal acrescentou mais uma categoria a essa lista: o que confunde embaixada brasileira com área VIP de show da Madonna. Um arquiteto carioca de 27 anos, que foi a Katmandu participar de um retiro espiritual e não está ferido, queixou-se à mãe, por telefone, por não ter recebido "nem água" na representação e por não ter obtido permissão para acampar no quintal. Não é exceção. Em 2011, durante a revolução egípcia, um grupo de turistas brasileiros pediu à embaixada no Cairo que enviasse um avião ao balneário de Sharm el-Sheik para resgatá-los.
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Embaixadas existem para apoiar cidadãos no estrangeiro e atender demandas oficiais. Diante de uma tragédia natural, suas equipes têm de se desdobrar em busca de informações, gestões junto a governos locais e atendimento de emergência. Para muitas dessas tarefas, dispõem somente do próprio corpo diplomático - geralmente, os únicos capazes de entender português. A embaixada em Katmandu tinha 216 brasileiros no radar até quarta-feira, incluindo três feridos e um recém-nascido sem passaporte. Não faltava trabalho.
Por isso, se você tiver o azar de ser apanhado por terremoto ou revolução no Exterior, procure ou, pelo menos, avise a embaixada. Caso não esteja ferido, tente ser útil e prestar socorro a quem necessita. Deixe para contar detalhes a sua mãe quando chegar em casa. Ela ficará orgulhosa.
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Luiz Antônio Araujo: embaixada não é área VIP
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