Investigado por supostamente interferir no Ministério da Saúde para que a Labogen fosse contratada para a produção de um medicamento, o ex-deputado federal André Vargas (ex-PT-PT) foi flagrado em troca de mensagens e foi alvo de delação de antigos parceiros no esquema.
Preso na última sexta-feira na 11ª fase da Operação Lava-Jato, batizada "A Origem", Vargas foi levado para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde prestará seu primeiro depoimento na tarde desta segunda-feira.
Em depoimento, Leonardo Meirelles, proprietário da Labogen, confirma que houve interferência do ex-petista em favor do negócio. Na sua delação premiada, Youssef detalha uma reunião em 2013 realizada no apartamento funcional de Vargas, em Brasília, em que compareceram Meirelles e o então ministro da Saúde, Alexandre Padilha, entre outros interessados. O ex-deputado apresentou a Labogen a Padilha, que teria prometido encaminhar a empresa ao encontro de um dos coordenadores do Ministério da Saúde.
Youssef pagou R$ 2,3 milhões a Vargas, diz Polícia Federal
Em trocas de mensagens interceptadas pela Polícia Federal, Vargas e Youssef falam sobre a contratação da Labogen como algo que poderia lhes render dividendos.
- Inclusive há mensagens que sugerem que André Vargas teria uma participação específica na empresa Labogen, ele frequentemente se reportando ao empreendimento como algo também dele - relata o juiz federal Sérgio Moro, no despacho que autorizou a prisão de Vargas.
Em um dos trechos interceptados, Vargas dá gargalhadas após comentário de Youssef:
- Estamos mais fortes agora (...) - disse Vargas por mensagem.
- Cara estou trabalhando fica tranquilo. Acredite em mim. Você vai ver o quanto isso vai valer. Tua independência financeira. E nossa também eh claro - respondeu o doleiro.
- KKKK - sorriu Vargas.
Nova fase da Lava-Jato investiga corrupção na Caixa e no Ministério da Saúde
O caso de interferência no Ministério da Saúde em favor da Labogen é apenas uma das suspeitas contra o ex-petista. Ele também é investigados por controlar um esquema de desvio de recursos da publicidade oficial da Caixa Econômica Federal (CEF) e do Ministério da Saúde.
A agência Borghi Lowe, que detinha as contas de ambas instituições, subcontratava produtoras e as orientava a passar o bônus de 10% dos contratos - as comissões do mercado publicitário - a duas empresas de fachada de Vargas, uma em seu nome e outra pertencente a um irmão, que não prestavam nenhum serviço, apenas recebiam os recursos.
No despacho, o juiz Moro reforça que há provas, embora seja necessário aprofundar investigações, de que Youssef providenciou, em dezembro de 2013, o repasse de R$ 2,3 milhões em dinheiro para Vargas. O recurso surgiu a partir de notas fraudulentas emitas por uma empresa que mantém contratos com instituições públicas, mas não presta nenhum serviço.
Embora seja investigado pela Operação Lava-Jato, os crimes supostamente cometidos por Vargas não tem relação com a Petrobras. Ele faz parte de uma etapa de expansão das apurações para outros órgãos da administração federal.
- Os crimes atribuídos a André Vargas são estranhos ao esquema criminoso na Petrobras, mas se inserem em mesmo contexto de obtenção de comissões ou propinas em contratos com a administração pública - destaca Moro.