Acostumado a homenagens e badalações nas 15 edições anteriores da Expodireto, Luis Carlos Heinze (PP-RS) transformou sua passagem este ano por Não-Me-Toque em uma sessão de explicações. Ao chegar à feira, o deputado gaúcho mais votado na última eleição, um dos líderes da bancada ruralista, foi cobrado por um empresário, seu antigo desafeto:
- Falava mal de mim e apareceu na Lava-Jato...
Heinze digeriu a provocação. Era segunda-feira, 9 de março, três dias depois da divulgação da relação de políticos citados no esquema de corrupção da Petrobras. A lista engoliu o PP gaúcho. Trouxe Heinze e os também deputados federais Afonso Hamm, Jerônimo Goergen, José Otávio Germano e Renato Molling, além do ex-deputado Vilson Covatti. Um sexteto que há um mês lida com a desconfiança dos eleitores e a incerteza dos reflexos de uma investigação sem prazo para acabar.
- Confio que o caso será arquivado, mas o estrago está feito. A gente espera por uma decisão demorada. É tortura - diz Covatti.
A espera pelo desfecho do caso tira o sono do ex-parlamentar, que recorre a orações para Nossa Senhora Aparecida. Cada citado reage à sua maneira sobre a suspeita de receber uma mesada com valores entre R$ 30 mil e R$ 150 mil, segundo o doleiro Alberto Youssef. Em comum, eles tentam blindar os familiares, lamentam os pré-julgamentos e negam envolvimento nos desvios, como na frase repetida por Molling:
- Quem me conhece sabe que eu não receberia dinheiro sujo.
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Prefeito de Sapiranga por dois mandatos, marido da atual prefeita Corinha, o deputado viu adversários distribuírem um panfleto, sem assinatura, com a afirmação de que ele levava R$ 150 mil mensais, fato não comprovado. Molling admitiu o baque. Os convites para inaugurações e feiras são educadamente recusados:
- Parece que jogaram um balde de água fria. Por mais que tente demonstrar que está tudo bem, não tem como trabalhar direito.
No dia em que saiu a lista, Afonso Hamm se preparava para abrir a porteira da propriedade rural, em Bagé, quando ouviu seu nome no rádio. Ele orientou os filhos a não caírem em provocações e não participou da 36ª Semana Crioula Internacional de Bagé. Como administra suas terras, mantém as compras no comércio local. Em uma veterinária, foi cobrado por uma senhora com a franqueza típica dos fronteiriços:
- Toda a minha família votou em ti. É importante que tudo seja esclarecido.
Lista inclui 32 nomes do PP
Tentar esclarecer foi o que Jerônimo Goergen mais fez nas últimas semanas, período em que perdeu quatro quilos. No casamento de um amigo, não se divertiu. Foi interpelado sobre a Lava-Jato em diferentes rodas de convidados, questionamentos repetidos em viagens ao Estado:
- Chegar em casa à noite é uma vitória. Tua vida parece ter só um assunto, só se fala disso.
Marcado pela entrevista em que chorou, Goergen dispara frases fortes: já disse que o PP "acabou" e chamou o partido de "prostituta". Também colocou à disposição o cargo de coordenador institucional da bancada ruralista, mas permanece no posto.
José Otávio Germano foi o único dos gaúchos que não quis falar com ZH. Na semana posterior à divulgação da lista, ofereceu abraço a um dos colegas de bancada, que recusou. Nos últimos meses, também teve de lidar com a enfermidade do pai, o ex-vice-governador Otávio Germano, morto no dia 29. Dos seis gaúchos, é o que tem o advogado mais renomado em Brasília, Marcelo Bessa, o mesmo que no mensalão defendeu o ex-deputado Valdemar Costa Neto.
Se no Estado os investigados são discretos, em Brasília o constrangimento é menor em um Congresso acostumado a suspeitas de corrupção. Só o PP tem 32 nomes na Lava-Jato, que envolve políticos de outros cinco partidos. Os gaúchos foram assíduos nas sessões de votação e receberam comitivas de vereadores e prefeitos em seus gabinetes. Entre eles, o contato é protocolar. Um dos raros encontros ocorreu na terça-feira, 24 de março.
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Para tratar da eleição interna do partido, tumultuada pela Lava-Jato, a executiva nacional do PP se reuniu no Senado. Heinze leu o depoimento em que Youssef fala da mesada e lançou um desafio aos líderes da legenda Dudu da Fonte, Nelson Meurer, Aguinaldo Ribeiro, Arthur Lira e Ciro Nogueira, todos alvos de inquéritos na operação:
- O doleiro diz que os líderes recebiam o dinheiro e distribuíam para bancada. Quero que cada um de vocês me diga quando e onde recebi dinheiro. Digam!
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