Um dia após o tornado que atingiu Xanxerê, no Oeste de SC, deixar ao menos ao menos dois mortos e 60 feridos, moradores das regiões mais afetadas começam a voltar para suas casas e avaliar os estragos. Dados atualizados pela Defesa Civil na manhã desta terça-feira mostram que, até o momento, mais de 600 pessoas foram atendidas com lonas e materiais de emergência.
Segundo a Defesa Civil, o tornado - que pode ter atingido 200 km/h - alcançou uma área aproximada de 250 quadras em Xanxerê. Estima-se que foram 2,5 mil casas afetadas pelo temporal.
Serviços de emergência de Xanxerê estão concentrados no quartel dos bombeiros. Entretanto, dificuldades são encontradas até pela corporação: nesta segunda, por exemplo, os próprios bombeiros ficaram mais de quatro horas sem comunicação por rádio ou telefone. 60 bombeiros foram deslocados de cidades do Estado para auxiliar nas operações.
Casal foi arrastado
com a casa que virou
O cuidador de idosos João Pereira, 42 anos e o seu companheiro Juliano Pereira, de 32 anos, estavam na frente da casa, no Bairro Tacca, quando viram o temporal se aproximando.
- Quando entramos veio o vento e levou a casa - lembrou João.
A casa de madeira virou sobre a residência do vizinho, que é irmão de Juliano. O que tinha dentro caiu por cima dos dois.
- O vento nos levou junto, caiu o fogão em cima, estourou o gás em cima de mim e não conseguia gritar para pedir socorro - afirmou Juliano.
João Pereira disse que tentou pedir ajuda mas nem sabia que todo mundo em volta estava na mesma situação. Depois que conseguiram sair, foram buscar auxílio. João teve um corte na testa. Ambos foram hospitalizados e liberados após medicação.
Nenhum dos dois dormiu. Eles passaram a noite perto da casa, que Juliano ganhou de herança, onde moram há dez anos.
- Em poucos segundos, perdemos tudo o que construímos em dez anos - afirmou João. Ele tem emprego mas Juliano sobrevive apenas com um salário de auxílio doença.
Eles esperam conseguir alguma ajuda para tentar reconstruir a vida.
"Só sobrou a roupa do corpo"
Ao tentar dormir no abrigo municipal improvisado na Escola Municipal Pequeno Príncipe, em Xanxerê, onde passou a noite, Amarildo Narciso, 27 anos, revivia o drama que horas antes havia destruído a casa onde morava.
- Eu olhava para o teto e pensava que ele iria subir - relatou, na manhã desta terça-feira, sentado num dos colchões enviados pela Defesa Civil.
Ele e mais três amigos que moravam na mesma casa, alugada, foram os únicos que passaram a noite no abrigo municipal. A maioria das pessoas procurou casas de parentes e amigos ou até dormiram nos carros, temendo saques. Amarildo era o único dos quatro que estava em casa na hora do temporal.
Ele lembra que veio um vento muito forte e abriu a porta da casa. Ele fechou a porta e ficou próximo da garagem quando sentiu a sensação de que deveria sair de lá.
- Quando abri a porta do banheiro voou tudo, vi brasilit (telha de cimento amianto) e madeira voando - relatou.
Narciso disse que não chegou a sentir o vento e ficou praticamente sem reação.
- Pensei que fosse morrer, fechei os olhos e comecei a rezar - contou.
Depois que se refez do susto, ele foi procurar auxílio e passou a noite no abrigo municipal, onde conseguiu dormir apenas duas horas.
- Só sobrou a roupa do corpo.
No início da manhã ele e os colegas voltaram para o bairro Tacca, onde moravam, para tentar resgatar alguns pertences no meio dos entulhos. Amarildo conseguiu reaver a pasta com um documentos, que um vizinho achou no pátio do terreno. O gato Vênus, que estava desaparecido, também voltou para a antiga moradia.
Mulher chega de viagem e
encontra casa da irmã destruída
Quando soube da notícia de um tornado em Xanxerê, Jacinta Fava, que mora em Porto Alegre, conseguiu carona com um irmão que estava no Rio Grande do Sul e foi para o Oeste Catarinense. Ao chegar na casa onde morou com seus pais, ela não conteve o choro.
- Quando meus pais morreram, deixamos a casa para a minha irmã - disse Jacinta.
Ela contou que familiar, Neiva Maria Fava, que é servidora municipal, escapou com ferimentos leves.
- Ela conseguiu pular para a casa vizinha - disse.
Se tivesse ficado em casa, talvez não tivesse sobrevivido. Pouco sobrou da residência, que fica no bairro Tacca: tudo em volta ficou destruído. As árvores quebraram. Os postes caíram e os telhados voaram. Agora, relata, resta buscar força para reconstruir tudo de novo.
:: Tempestade causa estragos na região Oeste de Santa Catarina
:: 191 mil unidades consumidoras ficam sem luz após tempestade no Oeste
:: Infográfico: Entenda a formação do tornado em Xanxerê