Centenas de moradores do conjunto de favelas do Complexo do Alemão fizeram um protesto pacífico no final da manhã deste sábado, 4 de abril, caminhando pelas duas principais vias da região, as avenidas Itararé e Itaoca, para pedir paz na comunidade e justiça pela morte do menino Eduardo Ferreira, de 10 anos, atingido na quinta-feira durante operação da Polícia Militar (PM), na porta de casa.
Na sexta-feira, os protestos terminaram em confronto.
Menino morto no Complexo do Alemão queria ser bombeiro
Os moradores acusam a PM pelo disparo, mas o comando da corporação ainda está investigando o fato. Carregando cartazes, panos e balões brancos, os moradores partiram da localidade conhecida como Grota e seguiram até a praça principal do bairro de Inhaúma, do outro lado da comunidade. Durante todo o trajeto, foram seguidos de perto por dezenas de policiais militares, que não intervieram no protesto. Em alguns momentos mais tensos, as pessoas vaiaram veículos da PM, principalmente da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e o blindado conhecido como Caveirão, quando passavam pelo protesto.
A mãe de Eduardo, a diarista Terezinha Maria de Jesus, participou do início do ato, mas teve de ser retirada, ao se descontrolar e passar mal. Ela culpou a PM pela morte do filho. "Eles estão matando os inocentes. Esta polícia assassina tirou a vida do meu filho. Esses covardes", protestou Terezinha.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), deputado Marcelo Freixo (Psol), esteve no protesto e questionou a política de segurança do governo do Estado:
- Tem que ter uma solução para isso, porque estamos falando da vida das pessoas. O primeiro passo é ouvir os moradores. Isso nunca aconteceu, nem para construir o teleférico nem para pensar em um modelo de polícia. É preciso parar com o discurso da guerra. Tem que ter diálogo.
O líder comunitário Rene Silva, criador do jornal Voz da Comunidade, citou o aumento da violência como a principal causa do protesto:
- O motivo da manifestação é a insatisfação das pessoas com esta violência, que já está desde o início do ano aqui no Complexo. Estamos há 90 dias sem deixar de ouvir tiroteios. A solução não é reforçar o policiamento. Passa por investimento em outras áreas, que não chegaram com a mesma força que a polícia chegou na comunidade, como as áreas cultural e social.
O presidente da Associação de Moradores da Palmeira, Marcos Valério Alves, conhecido como Marquinho Pepé, fez questão de ressaltar que o ato não era contra a polícia, mas sim pela paz e pelo respeito mútuo:
- O nosso objetivo é pela paz e pela vida. Não somos contra a UPP. Só queremos é policiais comprometidos com a vida. Queremos um comandante que chame a população para conversar. Que haja o diálogo. Nós queremos o nosso direito de ser respeitados. Hoje não existe nem respeito nem tolerância dentro do Alemão.
O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, se manifestou em nota publicada na sexta-feira e informou que todas as despesas com o traslado e sepultamento do corpo do menino Eduardo para o Piauí, terra natal da família, serão pagas pelo Estado. Pezão também se disse profundamente consternado com o acontecido e salientou que a morte do garoto não ficará impune.
Os policiais que estavam envolvidos na ocorrência foram afastados das ruas e estão respondendo a um Inquérito Policial Militar (IPM). Suas armas foram recolhidas para a realização de exame balístico.
*Agência Brasil