Este 2 de abril de 2015 entra para a história como o dia em que um dos mais prolongados conflitos do Oriente Médio começou a ser resolvido: aquele que opôs Irã e Estados Unidos por mais de 30 anos. A imagem dos chanceleres John Kerry (EUA), Federica Mogherini (União Europeia) e Javad Zarif (Irã) anunciando um acerto para deter o programa nuclear iraniano e transferir para o exterior o estoque de urânio enriquecido por Teerã e, em troca, suspender as pesadas sanções aplicadas contra o país persa desde 2006 já é tão icônica quanto a de Yitzhak Rabin, premier israelense, e Yasser Arafat, líder palestino, apertando as mãos sob o abraço do presidente americano Bill Clinton, em 1993.
Negociadores anunciam acordo sobre programa nuclear iraniano
Os maiores vencedores, desde já, se chamam Barack Obama e Hassan Rouhani. Os presidentes americano e iraniano jogaram seu futuro político na expectativa de um acordo. Nenhum presidente americano foi mais vilipendiado numa iniciativa diplomática do que Obama: a oposição republicana chegou a escrever ao líder supremo do Irã, Ali Khamenei, advertindo que o acordo não valeria nada e que um futuro presidente ou mesmo o Congresso poderia rasgá-lo em pedaços. Quebraram a cara. Rouhani, por sua vez, foi vaiado no aeroporto de Teerã por um grupo de linhas-duras ao retornar de Genebra, em novembro de 2013, após firmar o acordo prévio que conduziu a este 2 de abril.
Ainda resta, evidentemente, muito por fazer. Mas o chanceler Zarif já afirmou, pelo Twitter, que haverá dança nas ruas de Teerã esta noite. Talvez a recepção em Washington seja mais fria, mas o fato é que, segundo pesquisa recente do The Washington Post e da rede de TV ABC, 59% dos americanos apoiam a retomada das relações. Obama aposta que os republicanos não arcarão com a responsabilidade de sepultar um acordo desse porte e partir para a guerra - única alternativa viável a longo prazo e consequência lógica da política preconizada por John Boehner, presidente da Câmara.
Obama e Rouhani já têm seu Camp David. Mas há dois Camp David: o de Jimmy Carter, selando a paz entre Egito e Israel, que perdura até hoje, e o de Clinton, Rabin e Arafat, que terminou de forma sangrenta. Qual deles terá tido lugar hoje em Lausanne?