A angústia dos municípios da zona sul do Estado com a estiagem vai se prolongar pelas próximas semanas. A meteorologia até espera a passagem de duas frentes frias pelo Rio Grande do Sul na virada do mês, mas a região que mais precisa será pouco beneficiada.
- Os volumes mais expressivos novamente ocorrerão na metade norte do mapa. Na Campanha e na Zona Sul, os totais esperados são muito baixos, e em algumas localidades não deverá chover -adianta Flávio Varone, meteorologista da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro).
Os volumes registrados de chuva pelos institutos confirmam o sentimento dos agricultores. Após um janeiro chuvoso, em fevereiro e março as precipitações foram muito abaixo da média. Em Santa Vitória do Palmar, por exemplo, os dois meses registraram respectivamente apenas 30% e 11% da média climatológica para o período.
Segundo Varone, as instabilidades que se formaram entre o Paraguai e a Argentina até conseguiram beneficiar o norte do Estado, mas acabaram não alcançando outras regiões, como Zona Sul e Campanha. Sem o suporte da umidade de origem amazônica, as frentes frias que passaram pelo Rio Grande do Sul não tiveram força para gerar chuva significativa a sobre as áreas que mais precisavam, levando ao predomínio do ar seco.
Embora os prejuízos sejam irreversíveis, a boa notícia é de que pelo menos no inverno o quadro tende a ser revertido. Segundo Varone, o modelo estatístico da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) indica que nos próximos três meses a chuva será próxima ao padrão.
- Ao longo do mês de maio a situação começa a se normalizar - avalia Varone.
Para Evair Ehlert, responsável pela área de produção vegetal do escritório regional da Emater de Pelotas, a estiagem deixa a lição da necessidade de agricultores adotarem cada vez mais práticas de manejo e conservação do solo e da água, como o plantio direto e a rotação de culturas, além do cultivo no intervalo entre o final de outubro e novembro. Assim, sustenta, é possível minimizar prejuízos mesmo em períodos curtos de falta de chuva.
Se chovesse, a pastagem de inverno do pequeno produtor de leite Eduardo Ribeiro Medeiros, 43 anos, estaria com um palmo e meio de altura. Sem umidade, vingaram poucos fiapos da aveia que serviria para alimentar as oito vacas leiteiras que garantem o seu sustento. Sem o pasto cultivado, com o campo amarelado e o baixo rendimento do milho plantado para fazer silagem, os animais vão perdendo peso e diminuindo a produção. A ordenha rende agora cerca de 50 litros por dia, metade do normal. Um golpe duro na principal fonte de renda da propriedade de 10 hectares no interior de Pedras Altas.
Mas o maior receio de Medeiros é o que pode ocorrer nos próximos meses. Com início das geadas, a tendência é de que o alimento para as vacas fique ainda mais escasso. E para não correr o risco de perder os animais por inanição, será inevitável sacrificar as finanças já abaladas pela queda da produção e do preço do leite.
- Para piorar, terei que gastar com ração para o gado - prevê.
A poucos quilômetros da divisa com o Uruguai, na localidade de Passo das Carretas, em Herval, o pecuarista Roberto Luis Valduga, 58 anos, tem receio semelhante. A tendência é que o pasto, agora ressecado, volte a brotar apenas na primavera. Até lá, cresce o risco de o gado - que já vai entrar na estação fria magro - morrer. Morador da região há 36 anos, Valduga também demonstra preocupação com o nível dos açudes, cada vez mais baixos.
- De pasto, já vi seca pior. Mas, de água, não teve igual - diz.