A morte de Dian Luca dos Santos Soares, 14 anos, no sábado à noite, no centro de Santa Maria, expõe a violência que tem envolvidos jovens. É o quarto tumulto desse tipo, desde o final de fevereiro, registrado na área central de Santa Maria. Este episódio, assim como o tiroteio na Praça Saturnino de Brito, o assassinato do Shopping Independência e uma briga no Calçadão, trazem à tona discussões sobre segurança, como o envolvimento de jovens nos chamados bondes e o número de policiais na cidade.
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- É cada vez mais crescente a atuação desses grupos, que querem ostentar poder e, até mesmo, competir entre eles na prática de crimes. Eles se impõe pela violência - afirma o comandante interino do 1º RPMon, major Paulo Antônio Flores de Oliveira.
Segundo o comandante da BM, ao que tudo indica, o adolescente morto teria sido vítima de uma rixa entre os bondes. A BM tem, até o momento, identificados entre quatro a cinco grupos desse tipo com atuação na cidade.
Mesmo com o fim da Operação Coração do Rio Grande, ele afirma que intensificou a presença de PMs no Centro. Porém, não evitaria esse tipo de crime, que, segundo Oliveira, geralmente, é encomendado.
A mãe do adolescente, Jucimar dos Santos Soares, 40 anos, relatou que Dian estava de castigo por estar indo mal nos estudos. Ela conta que o desempenho escolar foi influenciado pelas "más companhias". Jucimar desconhece o motivo da briga, mas ouviu que o desentendimento teria começado por meio de uma provocação no Facebook:
- Ele andava com uma turma bem mais velha, dizem que era um grupo da Vila Schirmer e outro de Camobi, não sei. Não sei nem se conheciam o meu filho.
Dian era o caçula de cinco filhos, nasceu em Alegrete, mas morava em Santa Maria desde 2006. Ele estudava no 7º ano da Escola Estadual Rômulo Zanchi. O enterro será às 9h de segunda-feira, no Cemitério Municipal de Alegrete.
Cinco horas depois, a polícia prendeu em flagrante o autor confesso do crime, Alifer da Silva Farias, 18 anos. Ele e outro suspeito, de 19 anos, foram detidos no ginásio do Guarany-Atlântico. Alifer confessou o assassinato e foi levado à Penitenciária Estadual de Santa Maria (Pesm). O outro suspeito foi liberado. Segundo a delegada Carla de Almeida, o autor disse que tinha um desentendimento com a vítima.
- Quanto ao fato de pertencerem ou não as bondes (vítima e suspeito), não me atrevo a fazer essa avaliação.
Especialistas afirmam que vítimas e autores são do mesmo grupo
Para o sociólogo e professor da Universidade Federal e Santa Maria (UFSM), Francis Moraes de Almeida, a morte do adolescente de 14 anos, no Centro de Santa Maria, indica uma situação de abandono dos jovens, em geral. Além disso, ele afirma ser injustificável a sensação de insegurança relatada por parte da população:
- A sensação de insegurança que se observa na cidade é injustificável. Até porque as vítimas são do mesmo grupo dos autores. Ou seja, jovens moradores da periferia e quase sempre com antecedentes criminais.
Para o sociólogo, Santa Maria carece de políticas culturais voltadas à juventude. Ele cita, por exemplo, a falta de políticas públicas para a ocupação de espaços por meio de atividades recreativas. Ou seja, o Estado precisa garantir espaços de lazer e cultura nas regiões mais afastadas.
O advogado criminalista Daniel Tonetto, que participa do Colegiado do Gabinete de Gestão Integrada Municipal, destaca que não se pode colocar a culpa apenas no Estado. Para ele, é preciso que sociedade e Estado unam esforços para suprir a ausência do poder público onde a criminalidade faz a sua casa.
- Há lugares de nossa cidade onde a falta de esperança, a falta de estrutura familiar e a ausência de oportunidades potencializam e fomentam o crime - conlclui Tonetto.
Por que ostentar a violência?
O comportamento mais observado entre os chamados bondes segue a seguinte linha: a cultura da ostentação e a necessidade de se impor por meio da violência. Segundo o comandante interino do 1º RPMon, major Paulo Antônio Flores de Oliveira, o Setor de Inteligência da BM tem conhecimento de quatro a cinco bondes na cidade. Os grupos reúnem 10 jovens e, outros, de 15 a 20.
- Além da ostentação e da violência, há o recrutamento de jovens para o tráfico de drogas. Aí, nesse último, ele (jovem) não se envolve apenas com o tráfico, mas também com o consumo. A saída é tirar o máximo possível de armas, sejam elas brancas ou de fogo, das mãos deles - diz Oliveira, acrescentando que a BM apreendeu 40 facas e facões no último mês com jovens.
- A sensação de impunidade não é só junto à polícia. Temos um processo lento e burocrático. Por vezes, o criminoso é preso e solto e, às vezes, nem preso é. E no caso do adolescente quando mata alguém, ele, no máximo, será submetido a uma internação de três anos. O jovem infrator não se sente inibido e, assim, ele segue no crime - afirma o delegado da Polícia Civil, Sandro Meinerz.
O major justifica os crimes e brigas ocorrerem no Centro:
- É junto às áreas centrais, como shoppings e lojas, que eles têm visibilidade.
Como foi o caso
- Por volta das 18h20min de sábado, as câmeras de vigilância da Guarda Municipal registraram seis pessoas, em dois grupos, que vinham do Calçadão, passaram pela Saldanha Marinho e desceram a Venâncio Aires
- Segundo relato de moradores, o desentendimento começou em frente ao prédio da Cacism, do outro lado da rua. Segundo um homem, que não quis ser identificado e estava próximo do local, a vítima teria ameaçado usar o facão, mas levou o tiro antes: " Ele disse que ia puxar o facão e o outro respondeu "puxa, mas corre". Foi aí que eu ouvi dois tiros. Foi bem rápido, mal ouvi os tiros e já deu a correria"
- Às 18h34min as imagens das mesmas câmeras de segurança mostram duas pessoas, uma delas supostamente o autor dos disparos, passando pela Venâncio Aires em direção à Rio Branco
- Uma pessoa, que não quis ser identificada e viu o jovem caído, na Ângelo Uglione, conta que muitas pessoas tentaram ajudar e ligaram para Brigada Militar e Samu. Ela explica que depois de cair, Dian continuou respirando: "A Brigada chegou uns 25 minutos depois. O jovem estava caído, com o rosto na calçada, mas ainda respirava. Quando o Samu chegou, uns dez minutos depois da Brigada, ele estava morto."