Um dos mais bem-sucedidos planos de combate à pobreza da história de Caxias do Sul termina agora em abril. Com a remoção das últimas 20 famílias, os resquícios no entorno do antigo Valão dos Braga, no bairro Fátima Baixo, serão enterrados sob grandes pedras. É miséria vencida com planejamento e bons projetos, exemplo a ser levado para outros recantos.
Compare o antes e o depois no Fátima Baixo:
Durante mais de 30 anos, os casebres fincados à beira de um arroio poluído, na saída para Flores da Cunha, retrataram o lado inverso da pujança caxiense. Famílias esfomeadas vislumbravam caxienses mais abastados cruzarem a ERS-122 com esmolas nunca suficientes.
A solidariedade, sempre bem-vinda, jamais sanou a exclusão que minou sonhos de diversas gerações no Valão. A mudança definitiva só aconteceu quando o poder público mostrou empenho, de fato, para extirpar a favela e alçar as famílias a uma nova condição.
A parceria entre o município e o Governo Federal encerrará a retirada de 366 famílias que viviam no antigo Valão, em morros e becos das proximidades. Esse processo não foi simples, demorou quase oito anos, mas o resultado do esforço é palpável.
Os arremedos de moradia, alguns sustentados em tronco de árvores, foram varridos do mapa. Parte daquela área hoje é apenas uma paisagem, cortada por rua asfaltada e viaduto. Os moradores do Valão e arredores receberam apartamentos e casas novas no loteamento Victório Trez. Além de limar a comunidade forjada no arroio, houve investimento de peso na reestruturação viária e em obras de saneamento com recursos do município e da União.
Há pendências no loteamento Victório Trez, e quem ficou no Fátima Baixo requer melhorias por uma vida mais confortável. Contudo, é necessário reconhecer que se trata de um grande feito.
Os passos que levaram ao fim da favela:
1- O governo federal liberou, em 2007, recursos para urbanizar o Fátima Baixo e melhorar o acesso norte de Caxias do Sul pela ERS-122. Isso só ocorreu porque a prefeitura de Caxias do Sul inscreveu os projetos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
2 - O município não construiu apenas moradias novas. Formou parceria com a Universidade de Caxias do Sul para orientar, capacitar e incentivar as famílias do reassentamento a buscar autonomia.
3 - O investimento foi compartilhado. O gasto total no reassentamento ultrapassa R$ 40 milhões, com contrapartidas da União (via PAC) e município.
4 - Contra futuras ocupações, a Secretaria Municipal da Habitação demoliu casebres do antigo Valão e do entorno, e implantou obstáculos para desestimular construções irregulares.
5 - Não bastava apenas um teto, foi preciso dar qualidade de vida. Para isso, o plano é construir uma área de lazer com quadra de esportes, parquinho, pistas de skate e caminhada no Victório Trez. O projeto depende apenas de liberação ambiental.
6 - Quem ficou no bairro Fátima Baixo também precisa de atenção. A prefeitura prosseguirá com obras de saneamento, pavimentação e contra alagamentos.
Vida nova
Saiba por que o fim dos casebres do Valão dos Braga é um feito histórico em Caxias
Reassentamento das famílias do Fátima Baixo chega ao fim e será concluído em abril
Adriano Duarte
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