A direção da Petrobras encontrou a fórmula para destravar o nó de seu balanço financeiro. Segundo apurou o Broadcast, serviço da Agência Estado, a estatal vai incluir os valores "oficiais" da Operação Lava-Jato nos balanços dos terceiro e quarto trimestres do ano passado como perdas decorrentes de corrupção. A companhia requereu e obteve de todas as instâncias judiciais todos os documentos ligados às fraudes, com os respectivos valores dos desvios.
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O Broadcast não obteve o valor a ser incluído no balanço, apenas a informação de que será "infinitamente menor" do que os R$ 61 bilhões que a diretoria anterior sugeriu como perdas - e que incluía, além dos dados sobre eventuais desvios, também o saldo de ativos envolvidos na investigação e que estariam superavaliados. Porém, pelos números divulgados pelo Ministério Público Federal (MPF), os crimes já denunciados envolvem o desvio de, aproximadamente, R$ 2,1 bilhões.
Na primeira instância, são cobrados R$ 4,47 bilhões por desvios de recursos, multas e indenização por danos morais coletivos. Por meio de uma cooperação internacional, o Ministério Público conseguiu bloquear R$ 1,3 bilhão em contas na Suíça de personalidades supostamente envolvidas no esquema. Não há como somar os valores, porque as cifras referem-se a diferentes eventos e pode haver duplicidade de contagem. Além disso, cada órgão está numa etapa da investigação.
A Petrobras trabalha não com os valores divulgados pela imprensa, mas com dados repassados diretamente pelas esferas judiciais. Está cruzando todas as cifras para, a partir daí, chegar a uma conclusão de quanto, comprovadamente, foi o desvio de recursos da empresa. O balanço, segundo fontes envolvidas nos estudos, deve ser publicado ainda este mês ou no início de abril. Os valores desviados em atos sob suspeita de corrupção devem ser incluídos integralmente como perdas no balanço nos terceiro e quarto trimestres do ano passado.
A perda contábil vai reduzir drasticamente o lucro da companhia. Com isso, serão muito baixos os dividendos relativos ao exercício de 2014. Há até mesmo a possibilidade de não haver distribuição de dividendos - o que ocorre quando uma empresa registra lucro muito baixo ou quando o resultado do ano é negativo. No ano de 2013, o lucro foi de R$ 23,6 bilhões e seguiu a ordem de grandeza dos últimos anos. O que significa que, para zerar o lucro de 2014, as perdas da companhia teriam de equivaler a R$ 20 bilhões.
Alavancagem
Uma das preocupações da Petrobras é de que a baixa contábil deve levar a uma redução de seu patrimônio. Seu nível de endividamento proporcionalmente ao patrimônio ficará muito elevado - o que indica um grande aumento de risco para os investidores. Em setembro do ano passado, segundo o balanço divulgado, mas não auditado pela PricewaterhouseCoopers (PwC), a Petrobras tinha dívida líquida de R$ 261,445 bilhões e dívida bruta de R$ 331 bilhões.
Sua dívida já correspondia a mais de 4,6 vezes o lucro antes do pagamento de juros, impostos e amortizações (Ebitda). Essa proporção é limitada a um referencial de 3,5 vezes para as empresas detentoras de grau de investimento - aquelas com baixo risco para investidores. No mês passado, a companhia perdeu o grau de investimento e foi rebaixada a grau especulativo pela classificadora Moody.