José Otávio Germano (PP-RS) seria mais do que um integrante do baixo clero no suposto mensalinho do Partido Progressista (PP). Em depoimento, o doleiro Alberto Youssef coloca o deputado em um "grupo hegemônico" que comandou a sigla de 1994 a 2011. Apesar da posição, o gaúcho foi citado pelo próprio delator na relação de parlamentares que receberiam as menores fatias da mesada financiada com recursos desviados da Petrobras.
Pelas descrições das delações premiadas de Youssef e do ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, quem participa das investigações do esquema acredita que Germano teria condição intermediária, abaixo dos líderes José Janene e Mário Negromonte (BA), mas acima dos outros cinco gaúchos do PP também citados na Operação Lava-Jato.
Youssef identificou José Otávio no "grupo hegemônico" liderado por Janene (morto em 2010), Negromonte, Nelson Meurer (PR) e João Alberto Pizzolatti (SC). Foi Janene que apadrinhou Costa na Diretoria de Abastecimento, onde empreiteiras pagariam comissão de 1% sobre os contratos assinados.
O PP teria ficado com 60% do valor arrecado em diversas obras, a exemplo da Refinaria Abreu e Lima. Os líderes levariam mesadas entre R$ 250 mil e R$ 500 mil, enquanto Germano estaria na lista de 25 deputados com repasses que variavam de R$ 30 mil a R$ 150 mil mensais, conforme a força política de cada um - os demais gaúchos entrariam neste grupo. Segundo Costa, José Otávio não participava das reuniões que tratavam do suposto esquema, que teria se estendido entre 2005 e 2012.
O gaúcho se elegeu deputado federal em 2003, porém se licenciou para assumir a Secretaria de Segurança do Estado. Retornou à Câmara em 2006 e se reelegeu três vezes. Conforme Youssef, ele integrou uma relação de parlamentares que teriam recebido recursos desviados da Petrobras por meio de doações oficiais de campanha.
Junto com o deputado Luiz Fernando Faria (PP-MG), José Otávio é investigado em outro inquérito da Lava-Jato pela suspeita de intermediar o pagamento de R$ 200 mil a Costa, realizado em um hotel de luxo no Rio de Janeiro. O repasse seria um "agrado" enviado pela Fidens Engenharia por ter vencido licitações na Petrobras.
Faria é um dos melhores amigos de José Otávio em Brasília, ambos figuram na Comissão de Minas e Energia da Câmara. Youssef disse na delação que presenciou os dois juntos retirando valores de propina em apartamentos dos líderes do PP.
O doleiro informou que o grupo que controlava o partido mantinha listas com os nomes dos deputados e os respectivos valores da mesada. Ele diz ter visto as relações quando Pizzolatti era o líder (em 2010), sendo que a composição era repetida em reuniões da cúpula da legenda. As listas eram elaboradas nos períodos de escolha de líder na Câmara com os nomes dos parlamentares que votariam a favor do indicado pela ala de Janene e Negromonte.
Youssef ainda explicou que, para "comprar" a bancada, era preciso arrecadar de R$ 3 milhões a R$ 4 milhões por mês na Petrobras. Os valores seriam repassado em doações oficiais ou entregues em espécie, transportados em voos comerciais, com o dinheiro junto ao corpo dos emissários, ou em aeronaves fretadas.
As delações indicam que o eventual sistema de mesada teria assegurado ao grupo de Janene e Negromonte a vitória nas escolhas de liderança do PP na Câmara até 2011, quando uma rebelião deu à ala de Ciro Nogueira, Arthur Lira e Aguinaldo Ribeiro (todos investigados na Lava-Jato) a liderança e o controle da propina. A troca ampliou o racha do PP. Para conter a briga interna, Costa teria orientado Youssef a manter pagamentos ocultos ao antigo grupo hegemônico da legenda.
O que diz José Otávio Germano
Advogado de José Otávio Germano no caso que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), Marcelo Bessa nega o envolvimento do deputado com os supostos desvios na Petrobras. O advogado afirma que, nas citações sobre o parlamentar, o conteúdo dos depoimentos de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef é "absurdamente despropositado", que tal condição será comprovada ao longo da investigação conduzida pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal. José Otávio vai aguardar com "bastante tranquilidade" o final das investigações.
"Sobre o que está nesse processo em relação ao meu cliente, não há nenhuma prova, que não seja a palavra de dois delatores, com toda suspeição contra eles. Não há uma prova material que possa minimamente corroborar o que foi dito nos depoimentos", afirma Bessa.
O advogado classifica como "absurda" a afirmação de Youssef sobre o pertencimento do deputado gaúcho a um "grupo hegemônico" no PP. Em relação ao suposto recebimento de recursos desviados da Petrobras por meio de doações oficiais, Bessa destaca que os repasses foram legais, registrados na Justiça Eleitoral.
- Passa a ser uma acusação sem qualquer fundamento constitucional ou legal - completa.