Há dois meses e meio na Secretaria de Relações Institucionais da Presidência (SRI), Pepe Vargas (PT-RS) está no centro de uma disputa entre correntes do PT pelo espaço nobre no Planalto. Artilharia que ganhou reforço do PMDB, também interessado no posto do ministro gaúcho. Sem apoio da maior parte da bancada petista, Pepe permanece com aval da presidente Dilma Rousseff, que, por ora, barra mudança na pasta responsável pela articulação com Câmara e Senado.
A pressão teve início em dezembro, antes mesmo da posse - ele foi escolhido na cota pessoal de Dilma. A opção pelo gaúcho, integrante da Democracia Socialista (DS), corrente mais à esquerda do PT, reduziu a influência do núcleo central do governo do expresidente Lula e de sua tendência majoritária, Construindo um Novo Brasil (CNB). Até Lula estaria cobrando a saída de Pepe, desejada ainda por outros ministros e parlamentares da CNB.
Quem prega a troca diz que ele não tem perfil e preparo para função. O discurso é incentivado pelo PMDB, ávido por espaço e pela influência da secretaria, que coordena indicações de segundo e terceiro escalão na Esplanada. Discreto, Pepe evita respostas públicas e cumpre as tarefas enviadas pela chefe.
- Quando vier uma crítica, eu enfrento. Não tem nenhuma proposta de reforma (de sair ou continuar) - afirma o ministro
A falta de apoio a Pepe, somada à autonomia limitada para firmar acordos com parlamentares, dificulta a desgastada articulação no Congresso. Quando Pepe assumiu, Dilma já estava convencida a lançar candidato contra Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Câmara. O novo ministro defendeu uma composição, foi voto vencido e mergulhou na campanha de Arlindo Chinaglia (PT-SP). Cunha ganhou e rompeu relações. O cenário só piorou com a lista dos investigados na Operação Lava-Jato. O vazamento provocou a ira de Renan Calheiros (PMDB-AL), estendendo o problema ao Senado.
Estilo reservado e organizado
Petistas com trânsito no Planalto acham difícil a substituição de Pepe Vargas nas próximas semanas porque Dilma não gosta de ser pressionada. Ex-ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti conviveu com ameaças de demissão constantes. Mesmo enfraquecida, ficou quase três anos.
Reservadamente, Pepe admitiria a situação delicada. Na segunda, em jantar com deputados petistas, afirmou que nunca conversou com Dilma sobre eventual saída. Ele fala diariamente com a chefe que, em dias de bom humor, o chama de "Pepito". A presidente já disse que gosta do estilo de Pepe: reservado, organizado, pontual e avesso a vazamentos à imprensa.
Ontem, Pepe passou o dia em articulações com o vice-presidente Michel Temer, líderes da base e da bancada ruralista e tratou do pacote anticorrupção. Em um intervalo, recebeu convite de Dilma para integrar a comitiva que viaja na sexta para Eldorado do Sul, na abertura da colheita do arroz ecológico.