Contrariando a sina das obras públicas que sofrem atrasos na execução e demandam aditivos contratuais para elevar orçamentos, a ampliação do Hospital de Clínicas, em Porto Alegre, caminha dentro do cronograma e apresenta até redução de custos.
Depois de solucionar polêmicas arquitetônicas e ambientais na origem do projeto, a obra começou em junho de 2014, adotando conceitos modernos de gestão que permitirão a entrega dos dois novos anexos em novembro de 2017, dentro do prazo previsto.
No final de março, a estrutura dos prédios começará a ser erguida, com a colocação de fundações, pilares e vigas. A área construída será ampliada em quase 70%. Somente no setor de emergência, haverá aumento de 1,7 mil para 5,1 mil metros quadrados. Até agora, o trabalho foi dedicado à instalação das paredes de diafragma - espécie de piscina que servirá de base de sustentação -, escavações e colocações de cintas nos espaços onde serão construídos dois níveis de subsolo em cada um dos anexos.
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O sucesso do empreendimento é visível na medição de execução: 10% está concluída, cerca de 2,5 pontos percentuais acima do previsto para este período. São diversos os fatores que contribuem para esse cenário, mas o engenheiro responsável, Fernando Martins Pereira, destaca o trabalho aos sábados, o repasse de recursos sem atraso e a realização de licitação não apenas pelo critério de preço, mas também de técnica, que exige maior capacitação das construtoras.
- Esse modelo qualifica, afasta os aventureiros que oferecem qualquer preço para depois abandonarem a obra - explicou Pereira.
Também foi contratada, por licitação, uma "empresa gerenciadora". Ela atua como se fosse uma auditoria, fiscalizando o cumprimento do cronograma e antevendo problemas - e suas soluções - que podem atrasar a ampliação.
- Nos reunimos três vezes por semana com a gerenciadora para resolver situações. São modelos modernos de gestão que cabem na máquina pública. Com a engenharia prevalecendo entre os critérios, é possível fazer obra no prazo - assegurou Pereira.
Novos leitos exclusivos do SUS
Chama a atenção o fato de o orçamento ter sofrido redução em meio aos trabalhos. O contrato original, assinado em novembro de 2013, previa investimento de R$ 408 milhões. Depois disso, a União editou legislação autorizando a desoneração de parte dos tributos sobre contratos públicos federais. Com base nisso, o Clínicas chamou a construtora para renegociação e um aditivo foi assinado, em dezembro passado, reduzindo o valor da obra R$ 397 milhões.
A origem das verbas é o Ministério da Educação, que detém o controle do Clínicas. Serão inaugurados cerca de 150 novos leitos exclusivos para atendimento pelo SUS. Pacientes em situação crítica terão prioridade. Ligado academicamente à UFRGS, o Clínicas também ampliará os espaços destinados à pesquisa e ao ensino.
ANEXO 1
- Subsolos 1 e 2: estacionamento
- Térreo: emergência
- 2º andar: hemodinâmica, vestiário e anestesiologia
- 3º andar: recuperação pós-anestésica
- 4º andar: bloco cirúrgico e centro cirúrgico ambulatorial, salas de aula
- 5º andar: centro de material esterilizado, laboratório de patologia, salas de aula
- 6º e 7º andares: centro de tratamento intensivo
ANEXO 2
- Subsolos 1 e 2: estacionamento
- Térreo: atendimento ambulatorial, recepção e registro de pacientes
- 2º andar: endoscopia e diálise
- 3º andar: fisiatria e hospital-dia (adequado ao paciente que não necessita de internação, mas de tratamento contínuo por enfermidade crônica, como quimioterapia
- 4º, 5º e 6º andares: salas de aula, serviços administrativos e auditório
CURIOSIDADES
- Um sistema de lava-rodas evita que os caminhões levem sujeira do canteiro de obras à via pública. Jatos dágua derrubam o barro em uma câmara. Com o tempo, a terra decanta e a água é reaproveitada.
- Para iniciar os trabalhos, foi preciso superar dois entraves. O primeiro foi a proibição de intervenções no edifício original do Clínicas, que continuará ativo, porque o prédio é inventariado - tem potencial para ser considerado patrimônio histórico. Em março de 2014, a Câmara de Vereadores aprovou projeto de lei da prefeitura flexibilizando a situação.
- O Ministério Público Federal (MPF) acolheu representação de ambientalistas contra a retirada de 284 árvores do local. Após dois meses de negociação, o Clínicas assinou um compromisso de ajustamento de conduta. Cinco vegetais foram transplantados e estudos estão sendo feitos junto à Secretaria do Meio Ambiente para o plantio compensatório de 2,8 mil árvores.